Quem vai ganhar?
Quem mora no Rio de Janeiro sabe o drama que é andar pela cidade nesta época de obras para todos os lados. A prioridade comum a quase todos os países do mundo é criar condições adequadas de vida para os seus habitantes. Mas, infelizmente, há uma realidade que presenciamos e sobre a qual não podemos nos abster de fazer comentários. Quer seja por vaidade política ou por ganância eleitoreira, existe uma tendência de se mostrar para o mundo. Em detrimento de melhorias. Que urgem atenção. Para o mínimo de condições de vida dos habitantes locais. Tenho notado esta realidade acentuar-se ultimamente aqui na minha cidade.
Com relação à segurança das pessoas, por exemplo, não é só quem mora em Copacabana, no Leblon ou na Barra da Tijuca que necessita de proteção contra as consequências do tráfico de drogas. Todo e qualquer cidadão sofre a ameaça de ter um filho ou outro parente aliciado neste tipo condenável de vida. E nesse caso não importa onde more sua família. É mais do que louvável a pacificação dos morros. De Santa Marta. Da comunidade da Rocinha. E de outros na periferia do grande centro. Ou dos bairros nobres da cidade. Mas, por que esquecer a Vila Kenedy? Costa Barros? Nova Iguaçu? Para citar apenas alguns exemplos. Será porque os endinheirados que aqui pousam com seus euros e dólares jamais vão passar por esses lugares? E, sendo assim, isto não interessa a nossa prefeitura? Por não representar mais dinheiro nos cofres públicos?
Tão importante quanto mascarar a cidade; calcado no objetivo de aparecer no exterior, como o país bonzinho; que protege os seus cidadãos contra a violência; seria uma atenção global dos nossos governantes. A toda a população. Teríamos assim um povo satisfeito com as ações do bem. E livre para sempre. Da imposição dos marginalizados. Ultimamente não temos tido notícias de grupos de traficantes. Que fecham as portas comerciais de um bairro inteiro. Espalhando uma onda terrível. De medo e impotência. Mas temos ainda jovens. Na flor da idade. Que morrem em trocas de tiro. Nos confrontos de gangues pelas ruas e favelas. Carentes de um trabalho mais eficiente das nossas autoridades. Temos que aplaudir o magnífico trabalho de pacificação que vem sendo executado. É preciso reconhecer aquilo que realmente possui o seu valor. O que queremos deixar claro é a vigência desta unilateralidade de interesses. Que está debaixo do nosso nariz. Por mais que eles tentam distorcer o foco de seus objetivos nunca conseguem. Porque o povo não é ignorante.
Outra situação que não passa despercebida é a mudança de cara da nossa cidade. Com vistas aos dois eventos de porte que vêm por aí; quer sejam: a copa do mundo de futebol de 2014 e os jogos olímpicos de 2106. Esta crônica vai para qualquer lugar do país. E muitos não conhecem o Rio de Janeiro. Se estivessem aqui entenderiam melhor o que quero dizer. Certas regiões da cidade andam à beira do caos em se tratando de locomoção. Se for para melhorar a vida de quem depende disto é mais do que válido. E eu tenho a certeza de que a mudança virá para muito melhor. Mas a ideia continua sendo a mesma. Por que só para esses eventos? Por que só agora? E antes? E depois? O sofrimento de agora deve compensar mais tarde. Contudo, existem as regiões que não têm nada que ver com esses interesses; e aonde os investimentos não chegam. Penso que, se quisermos ter uma cidade realmente bela; digna do nome que leva; será preciso um carinho maior com aqueles que dão o seu suor. Para o seu crescimento. E estes são os trabalhadores fluminenses.
Creio num Rio melhor, num país realmente desenvolvido. Para nós. Prioritariamente. Não para o exterior. Enquanto nos preocupamos em não sermos notícia desagradável lá fora, eles, os que de fato valorizam sua população, investem em obras cada vez mais belas. Que os deixam orgulhosos. Torço agora para que não entreguemos a esses a maioria das medalhas de ouro; resultado do seu enorme preparo. Tampouco que passemos a um deles a taça de campeão. Mas tenho certeza que isto não vai acontecer. Vai ficar tudo por aqui. No nosso querido Brasil.