Viagem infinita.

Ano passado acordei com ânsia de viver, mas a sopa de sentimentos que me envolviam não me deixavam nada mais do que perdida em um mundo que nunca foi meu. Dia após dia, eu acordava com ânsia de algo que não sabia o que era. O tempo passava e cada vez mais sentimentos batiam em minha porta, sem ao menos eu ter convidado, e quando menos percebi, já não tinha mais lugar à mesa. Comecei a cansar. Mas como eu não podia ser chata, convidava-os para entrar, e sentar-lhes em meu sofá. Servia-lhes um grande prato cheio de desilusão e sonhos, e acreditava que já na primeira colherada eles iriam perceber do que eu precisava. De nada adiantava. Eles permaneciam ali. “Do que você precisa, moça?” – Eu não respondia. Permanecia calada. Afinal, do que eu precisava?

Dias foram passando, dia após dia de ilusão. Estava desgastada, os sentimentos que ali estavam, passaram a me deixar alucinada. Eu achava que isso permaneceria por muito tempo. Mas me enganei. Por incrível que pareça, eu comecei a me encontrar. Me encontrei no amor, na saudade, na paz e nos sonhos. Era disso que eu tanto precisava, e por tanto tempo não reconhecia nem mesmo o que via diante dos meus olhos.

Mês passado acordei com ânsia de sentimentos, que por mais que tenham vivido tanto tempo me cercando, pareciam ter me deixado ainda mais em dúvida do que realmente eu vivia. O amor estava sempre presente, mas nunca em corpo, apenas em coração. A saudade vivia escondida entre telefonemas e cartas daqueles que já nem moram mais aqui. A paz estava guardada em algum lugar, mas parecia que eu havia a perdido. E os sonhos? Não eram nada além de sonhos daquela que queria viver, e não sabia nem por onde começar sua jornada em busca daquilo que a fazia bem.

Semana passada acordei com ânsia de viver, e por mais que eu sentia falta de muita coisa, isso começou a me ajudar na busca do que é a vida. Afinal, o que é a vida? Eu não sabia. Eu lembrava de tudo o que vivi. Do quanto sofri, do quanto sorri, e do quanto os sentimentos me ajudaram e chegar até aqui. E então, descobri.

Ontem acordei com ânsia de sonhar, mas é isso que estou fazendo. Com as dúvidas me cercando, me deparei com a vida batendo em minha porta. “Que bela surpresa!” – eu disse. Convidei-a para entrar e tomar uma gostosa xícara de café em minha companhia. Conversamos sobre algo como paz, sonhos, saudade, ilusão e tudo que me cercava. E então, eu sorri.

Hoje acordei com ânsia de viver. “Mas que bobagem, menina!” – eu pensei. “É disso que eu vivo, é isso que estou fazendo e é assim que seguirei.” Levantei da cama, com a vida em minha mochila. E parti.