O PODER DAS PALAVRAS
Entrei na lanchonete e sentei-me num enorme balcão repleto de lindas meninas pré-universitárias. Levantei a mão e imediatamente o atendente veio ver o que eu queria e eu disse:
- Quero um lanche de pernil, uma cerveja bem gelada e se sobrar algum tempinho pede para aquela linda morena vir falar comigo!
O atendente riu e saiu apressado para preparar o meu pedido e eu fiquei esperando pacientemente com os olhos vidrados naquela linda menina toda vestida de branco, cabelos longos e pretos, um corpo escultural e uns olhos verdes maravilhosos.
O atendente chegou com meu pedido e eu imediatamente disse a ele que o pedido estava incompleto e ele sorriu e saiu sem dizer nada.
Todos os dias eu passava naquela lanchonete e sempre encontrava a linda garota dos olhos verdes que já tinha notado meu interesse por ela através dos meus olhares diretos e freqüentes piscadas. Às vezes ela esboçava algum sorriso e virava o rosto sempre passando as mãos pelos lindos cabelos.
Numa sexta-feira a lanchonete estava repleta de lindas garotas e lá estava minha musa sentada no mesmo banquinho de sempre e resolvi arriscar todo o meu insignificante poder de persuasão e além da cerveja pedi ao atendente uma boa dose de conhaque para animar meus ânimos e criar coragem suficiente para abordar aquela oitava maravilha do Mundo. Após ingerir a dose de conhaque, levantei-me discretamente e dirigi-me calmamente até a linda garota e pedi gentilmente se podia conhecê-la e quando já estava esperando um surpreendente e fatídico “Não” ela disse “Sim”. Quase tive um enfarto e minha garganta secou e engasguei e consegui com muito esforço apresentar-me e dizer que estuda..... e ela imediatamente disse:
- Você faz Medicina? Fiquei vermelho e perguntei a ela como tinha adivinhado e ela apontou uma linda jaqueta branca que eu estava usando e tinha emprestado do meu amigo Takeo que fazia Medicina na USP.
Rapidamente disse que sim e ela disse:
- Que legal eu também quero ser médica, estou estudando muito no cursinho para prestar o Vestibular para Santa Casa. Ela perguntou-me onde eu estava indo e eu disse que iria estudar na casa de um amigo da Faculdade, foi então que ela disse:
- Minhas aulas terminam às 23 horas, você não quer passar aqui no cursinho para a gente se conhecer melhor?
“Já tinha mentido sobre o que eu fazia e resolvi sustentar a “mentira” para conseguir namorar aquele “monumento” e pensava:” Caramba, a menina além de linda ainda é inteligente! Vou ficar milionário e nunca mais serei humilhado pelo meu colega Israel em falar que eu só conseguia namorar com garotas feias.
Cabulei as aulas do curso Colegial e fiquei sentado numa praça pensando profundamente o quê iria dizer aquela linda garota, fazia um verdadeiro teatro mental.
Faltando alguns minutos para as 23 horas lá estava eu esperando a garota descer os degraus do cursinho e finalmente ela apareceu no topo da escada sorridente e enviando-me um beijinho entre as colegas que desciam discutindo os assuntos abordados na sala de aula.
A garota chegou e abraçou minha cintura e deu-me um carinhoso beijinho no meu rosto e falou:
- Pronto, aqui estou, você poderia levar-me até minha casa?
A resposta demorou a sair e disse imediatamente que sim e seguimos pelas escuras ruas do bairro trocando informações pessoais, até o momento que ela começou a fazer várias perguntas sobre o curso de Medicina e eu não sabia responder e resolvi falar a verdade e disse:
- Olha querida, sou apenas um pobre garoto da periferia e estudante do curso colegial e esta jaqueta que estou vestindo é de um amigo que realmente faz Medicina na USP... mas....Esperei alguns segundos e já estava preparado para o tradicional pontapé no traseiro quando surpreendentemente ela disse:
- Sabe Luiz, adorei sua “cantada” e até que você saiu-se muito bem neste seu maravilhoso teatro da mentira, ainda bem que você redimiu-se e admitiu sua ignorância. E riu mostrando uns dentes alvos e brilhantes, mas mesmo assim gostaria de namorar você!
Com as mãos trêmulas e suadas e morrendo de vergonha abracei-a e dei um “saboroso” beijo nos seus lábios carnudos.
Despedimo-nos e prometi que na outra semana a gente se encontrava, pois assim que saísse da aula passaria no cursinho e levaria ela para casa.
Os minutos, os dias foram passando-se e eu consegui apaixonar-me perdidamente pela linda garota até que num determinado dia ela pediu que fosse buscá-la mais cedo que tinha algo muito importante para falar comigo. Já estava preparado, daquele dia não passaria, iria acontecer o fim do nosso relacionamento e quando nos encontramos as palavras foram bem claras:
- Olha Luiz, você é um “cara” muito lindo, mas não há como continuarmos a namorar, pois existe um abismo cultural muito grande entre nós e fica a dica: Procure estudar e quem sabe daqui uns 10 ou 20 anos a gente consegue conversar algo em comum.
Confesso que algumas lágrimas esboçaram em cair, os olhos marejaram e sai perambulando pelas ruas sem destino, com o coração despedaçado e muito humilhado e segui pra casa com um único objetivo: A partir daquele dia começaria a estudar muito e tornar-me-ia alguém muito inteligente ou no mínimo equiparar-se-ia aquela garota que mudou o destino da minha vida.
Contei o acontecido ao meu pai e ele riu muito e disse que queria conhecer a garota, pois ela realmente estava falando a verdade. Nova humilhação e passados alguns meses vim morar em Jacareí com apenas um propósito na minha vida. Estudar, estudar e estudar.
Estes são os poderes das palavras que quando proferidas por alguém que a gente ama pode transformar nossas vidas.
Obrigado linda garota por tão sinceras e transformadoras palavras que até hoje ecoam na minha mente. Vamos estudar!