Educação e transformação
O Brasil tem recursos para investir na educação, equiparados aos países de primeiro mundo. Atualmente, o Brasil “investe” 4% do seu PIB (Produto Interno Bruto) em educação, o que equivale a cerca de 77 bilhões de reais. A Suécia investe 7,6%.
Aqui gastam-se verdadeiras fortunas, em nome da educação, só em nome, porque se contabilizá-las mesmo, não chega esse dinheiro todo ao destino e nem se educa o homem capaz de promover a transformação que a humanidade anseia. Aliás, nem precisa de CPI para saber que a educação está mendigando, com o chapéu na mão. Há um déficit de no mínimo 254 mil professores na rede esfarrapada do sistema. Os professores existem, habilitados, pós-graduados, cheios de vontade de trabalhar, mas não conseguem viver com o indigno salário e as condições de trabalho do sistema.
A verba acaba antes de dignificar o profissional que vai assumir o comando da educação. q Os donos da verba preferem propor projetos disse daquilo e daquilo outro que fracassam, porque não alcançam o professor. Cadê o salário mínimo do professor? Não se implanta e já é até Lei, mas neste País, fazer Lei é muito “simples”. A gente paga horas extras aos cansadíssimos políticos, ela é votada, aprovada, comemorada e enfiada nos gavetões. Socorro!
Precisa falar mais o que? Distribuem-se computadores a analfabetos funcionais como se isto fosse inclusão.
Jesus deixou a proposta e o programa da pedagogia da transformação. Conforme explica o Apóstolo Paulo: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento...” Rm 12:2. Ele não propõe que o mundo seja mudado, mas sim, diz que é possível transformar-se a pessoa. O mundo, cada vez mais perto e visível, fica ao alcance de um mouzer e a bala perdida fica ali. Cadê o educador?
Se Carlos Drumond de Andrade estivesse aqui, iria, com certeza, reeditar sua poesia na capa da atual proposta política de educação. Na poesia, ele já denunciara que “no meio do caminho tem uma pedra”...
Diz-se que um certo rei mandou colocar uma enorme pedra no centro de uma estrada bastante movimentada e ficou à distância, observando as reações daqueles que por ali passavam. Ele desejava ver quem tomaria a iniciativa de retirar a pedra, que atrapalhava o livre trânsito.
Homens de todas as camadas sociais passaram e todos igualmente se desviavam da pedra, subindo no acostamento. O rei notou que a maioria daqueles que caminhavam, apressados, queixava-se do rei por não se interessar pela conservação da via. Finalmente, um pobre professor, num carro velho, aproximou-se da pedra e, com enorme esforço, retirou a pedra do caminho. Acontece que, ao transportar a pedra para fora da estrada, sentiu que pisara em alguma coisa que certamente estaria debaixo dela. Depois de afastá-la do caminho, voltou e viu que no lugar ocupado por ela estava um envelope. Abrindo-o, encontrou, além de uma respeitável soma de dinheiro, também uma notificação do próprio rei, esclarecendo que aquela importância se destinava a quem demonstrasse respeito, solidariedade, urbanidade, ao retirar da estrada a pedra que mandara colocar de propósito.
A esperança da sociedade está de óculos bifocais, de grau máximo, com olhar na direção do educador. E pensar que há crianças infelizes, mesmo aquelas que estão na Escola! Muitas estão tristes por causa de um décimo na “avaliação”, outras desesperadas por causa da reprovação, tantas encolhidas por detrás do bulling...
Cabe, sim, ao educador, juntar forças e unir propósitos para ajudar a tirar tantas pedras do caminho.
Calma, professor, ao retirar as pedras, você vai encontrar o envelope quase vazio do seu salário!
Ivone Boechat