Do cantar da jandaia


     Mais uma alencarina. 
     Agora, sobre o Siará.      
Sobre o Siará, a gente sempre tem o que escrever e o que contar. São geralmente estórias alegres.  Nenhum outro Estado brasileiro exportou, até hoje, mais alegria do que a Terra da Luz. 
     Que digam os humoristas cabeças-chatas que andam por aí fazendo o Brasil sorrir. Entre eles, Francisco Anysio de Oliveira Paula, com sérios problemas de saúde, atravessando, neste instante, momentos difíceis.
      Minhas orações, embora frágeis, pela saúde do nosso Chico Anysio, enfrentando, bravamente, a doença, do alto dos seus 80 anos de idade.
     Não faz muito tempo, passei, ao cair da tarde - fazia um friozinho acolhedor - por Maranguape onde, no dia 12 de abril de 1931, o velho Chico nasceu.

     Não sei se o leitor prestou atenção que, lá encima, chamei o Ceará de Siará. A pergunta é esta: Siará é o Ceará? Vai e volta, e os cearenses questionam a origem do nome do seu Estado. Há, sobre esse assunto, muitas versões, algumas de um lirismo indescritível.

     Maria Josélia Almeida, dileta amiga, amante da boa leitura, acaba de me mandar, de Fortaleza, algumas revistas Siará, publicação semanal do Diário do Nordeste, respeitado e aplaudido jornal alencarino.
     Na sua edição de 8 de janeiro de 2012, a origem do nome do Estado de Rachel de Queirós foi novamente ventilada, com indiscutível simplicidade e relevante informação histórica.
     Admitindo, numa exagerada pretensão, esteja aqui escrevendo para os cearenses espalhados pelo Brasil (só pelo Brasil?), criei esta crônica, para falar um pouco sobre a origem do nome da terra de Iracema, meu torrão natal.
     Não trago novidades. Creio, porém, que ainda há cearenses interessados em saber por que Ciará, Siará e, finalmente, Ceará. Indagação que, até o presente momento, nunca foi respondida de forma conclusiva. As especulações prosseguem envolvendo historiadores e etimólogos interessados no assunto.
     
     A matéria da revista traz, por exemplo, a opinião de Manuel Ayres de Casal, ou padre Ayres de Casal (1754-1821), presbítero no Crato, nos idos de 1815. Para o padre Ayres, Ciará, Siará, Ci-ará teria suas origens no "canto de papagaios pequenos". Que lindo!!!
     Outras opiniões sobre a grafia e origem da palavra Ceará também estão na revista Siará, na coluna Origem, História e Versões.
     O baiano Frei Vicente de Salvador (1564-1635), o primeiro a contar a história do Brasil, escreveu o nome do Estado "de quatro modos: Seará, Syará, Ciará e Ceará". Constatação feita por ninguém mais do que o mestre Antenor Nascente.
     O bravo jornalista João Brígido observou, num dos seus escritos, que a grafia "Siará" está "nos antigos documentos da Província".
     Martim Soares Moreno, diz a revista, escrevia Siará, sim, com "S".  Martim Soares Moreno, o grande amor da tabajara Iracema. Idilio siarense no qual sempre fiz questão de acreditar... Não riam.

     Mas, entre todas as versões apontadas na revista Siará, está aquela que sempre me seduziu: é a versão dada por José de Alencar. Segundo o autor de A Viuvinha, o nome Ceará "vem do cantar da jandaia"!
     O que penso. "...do cantar da jandaia". Pode não ser essa a verdadeira origem, a versão correta da palavra Ceará; mas, pela blandície da tradução dada pelo romancista de O Guarani, fico, e sem hesitar, com meu conterrâneo José de Alencar. Abandone-se todas as demais versões.
     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 17/03/2012
Reeditado em 24/10/2019
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