A tarde lentamente caía silenciosa e ameaçadora. A passarada riscava como flechas, o céu acinzentado e sumiam como por encanto.
                O pesado forro cinzento escondia o Sol que brilhara fervente pendurado num céu a pouco azul. Sua luz mal conseguia atravessar o pesado manto de todos os matizes de cinza para iluminar as cristas das colinas.
                Emergia, no horizonte, rapidamente um rodapé quase negro.  Aos poucos a claridade radiosa dava lugar às sombras pintando a uma falsa noite, quando ainda deveria ser dia.
                Este morria sem o canto dos pássaros, sem o farfalhar das folhas frangeadas de bananeiras. 
                Misterioso entardecer, de um incômodo bafo exalado da terra aquecida.
                 Não ousava arredar os pés. Não conseguia reagir aquele espetáculo vindo dos Céus.  Encontrava-me, magnetizado, preso, imantado, assustado e encantado.
                Presenciava a correria desenfreada das pesadas, e quase negras nuvens que engoliam o Céu, as colinas e o horizonte. Saiam de todos os lados e preenchiam todos os espaços, cantos e recantos da natureza estarrecida.  Um Céu enfurecido.
                De repente, a voz da tarde ficou rouca, com estalidos que ecoavam entre vales, colinas e o mar. Um estrondo atrás do outro, sem cessar. As nuvens guerreavam entre si, explodindo seus tufos no afã de ocupar o mesmo espaço cinzento quase negro.  Luta de titãs acima de mim. Submisso sentia um forte vento reger um cântico macabro vindo daquele céu encarniçado
.
                    O Mar e colinas respeitosas, reverentes, também, submissas ante a magia da excelência Divina. Acompanham a dança dos raios de Xangô que escapavam das nuvens partindo oblíquos ora dourados, ora azulados. Relâmpagos rápidos cortam o ar. Por vezes tão pertos que tornam ardente a ventania.
                Impressiona de tal forma que meus olhos fixos e maravilhados registram os riscos e desenhos das lanças afiadas. E, os ouvidos atentos aos estampidos que vinham e se perdiam.
                Tempo divinamente assustador dava vazão a lâmina d’água que vinha forte e decidida. Estilhaçando-se nas folhas das árvores impulsionada com a força do vento que em fúria a carregava.
                Tarde-noite entoava o cântico celestial. Retumbante, laminado de raios, vento e água que explodiam nas pedras, n’água do mar e relva.
                Eparrei  mamãe Yasã!  Senhora da Tarde, dos raios e das tempestades a renovar a natureza.  Oya!
Mané das Letras
Enviado por Mané das Letras em 17/03/2012
Reeditado em 02/12/2015
Código do texto: T3559210
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