Realidade densa
Às vezes, parece que o mundo pára e você apenas faz parte dele, como se tudo estivesse desconectado. Como se tudo fosse uma irrealidade... olho para a rua e há pessoas... olho para elas como se tudo fosse muito importante, mas tudo é importante e ainda assim acaba.
Acaba como acaba o sorriso quando alguém se faz ausente. E a ausência dói. Mesmo assim ela acontece, deixando uma sensação de vazio, de inconsistência, de incompletude, deixando o nada. E, às vezes, é tudo que temos...
No dia seguinte, dia após a crise, o sol brilha de novo, a lua continua ali, bem ali, no céu. E fingimos mais um dia de vida, quando não existe vida. E brilhamos no nosso céu, quando não mais existe o céu, e escandalizamos, nos fazemos fortes. Somos assim... somos demais assim... essa dualidade que grita, que espanta, que permeia, que acontece.
Estamos despreparados para viver e insistimos em viver. Estamos desconfortáveis na roupa e usamos a roupa. Estamos vazios e vivemos de imensidão de tudo que possa ser imenso.
Se não sou louca, não estou viva; e se estou viva, é porque sou louca.
A vida é um eterno despreparo. Ainda assim, me arrumo todas as manhãs e vou.
Lá estou eu, entre pessoas e livros, livros e papéis, canetas e certezas... certezas das incertezas de tudo que é o hoje e o amanhã.