Da minha janela...
Eu observo quieta o nascer de um novo dia. Meus olhos passeiam lentamente por toda a rua,quem dera ela fosse sempre assim silenciosa,calma como a madrugada.Essa madrugada cujas sombras da noite ainda a acompanham. Depois de uma longa espera, as estrelas desaparecem lentamente e as nuvens comemoram o raiar do sol.
Da minha janela posso observar o movimento da rua,que aos poucos se inicia. Gosto de observar as pessoas, todas elas me transmitem seus sentimentos:Aquele pai de família que acorda cedo para ir ao trabalho, e apresenta no rosto a expressão de uma noite mal dormida; Uma mulher de óculos escuros, agarrada à sua bolsa,caminha apressadamente até uma parada de ônibus,parece nervosa,como se temesse algum assalto no caminho; Um homem bêbado,falando sozinho,com um litro de cachaça na mão,tropeça na calçada e adormece ali mesmo,talvez a noite tenha sido longa demais para ele...
No entanto, nada me chamou mais atenção que aquele jovem, magro e cabisbaixo,com um olhar assustado,e que ironicamente assustava à todos;Um jovem viciado,reflexo de uma juventude perdida,caminha feito um zumbi sem destino algum, como se ainda fosse noite, como se o amanhecer não existisse mais pra ele.Observo seus passos incertos, ele apanha algumas pedras pelo chão,inquieto, desesperado, sedento por uma pedra de crack, e corre de um lado para o outro em direção ao nada que se tornou a sua vida. Nessas horas eu percebo
que não existe mais madrugada,nem calmaria,nem beleza.
O dia começou e cada um seguirá com sua história, sua rotina, seus dias iguais.Fecho minha janela porque gosto de enxergar o mundo com os olhos de poeta e a realidade ainda me assusta, destruindo a magia da minha poesia.