BENEFÍCIO DA CRÍTICA.
Algumas vezes o calar-se é manifestar-se com grandiloquência. O silêncio como manifestação da vontade não incorpora um paradoxo. Outras vezes o calar-se, quando impunha-se falar, é a encarnação de uma verdade externada com a qual não se perfila.
Existem três verdades no processo crítico, a dos críticos e a verdade absoluta. É essa que a ciência da lógica, no procedimento crítico, persegue, chega-se a ela pela divergência. Temos em lógica a certeza, cenáculo da evidência, incontestável e inquestionável. É atingida pelo caminho filosófico que estuda hipoteticamente o desconhecido ou o inexatamente conhecido.
A opinião se insere nessa dialética. Cada um tem sua opinião, legítima desde que respeitosa, formando o grande rio da discussão social, onde as margens são habitadas por variado contraditório, escorado em formações multifacetadas, plurais. Elas levam ao grande estuário do concerto de vontades, e deságua no mar da verdade absoluta.
Foi assim que a história apossou-se das grandes conquistas humanas, eviscerando a escravidão formal, estruturado o iluminismo, listando os direitos fundamentais humanos, hoje inscritos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tudo conseguido através do processo crítico.
Ontem, estimada amiga internauta, participou desse processo crítico com proveito. Trouxe a ajuda didática para a possibilidade de encontrar mais luz onde sombras podiam estar passeando. Dei uma opinião quanto à qualidade do site e seus escritores, e aqueles que dele fazem a boníssima terapia, e não devem ser escorraçados. O fiz com autossuficiência.
Todos exaramos nosso conhecimento com autossuficiência. O prefixo auto - hoje dobrado o “s” ou o “r” e suprimido o hífen antes de vocábulos que seguem o prefixo, iniciados com consoante “s” ou “r” - significa como antepositivo etimológico, do grego, AUTÓ, AUTÉS, AUTÓS, eu, “eu mesmo”. Por evidência, verdade absoluta em lógica, de raiz das línguas latinas, autossuficiência é o convencimento pessoal, o “ eu mesmo” de cada um.
Não há como dar opinião, aceita por uns e recusada por outros, como social, sem ser com autossuficiência.
Não seríamos nós mesmos; só caricatura. Sou um crítico por natureza, formação, índole e para tentar ser mais desperto, veja-se, desperto do verbo despertar, e não esperto, e assim mais aprender e compreender. É posição de assimilação budista.
Nessa linha, li no site considerações que quis contraditar, fazendo minha crítica no propósito de colocar em seu devido lugar, por convencimento pessoal, autossuficiente, pelo maior instrumento da construção do pensamento, a crítica, o que penso.
A crítica é o valor pensante mais alto da dogmática, sem a crítica o pensamento e suas conquistas não estariam onde estão, com todas suas setas atiradas para o futuro da humanidade. Sem Kant, o processo crítico não teria inaugurado a nova e moderna filosofia, e seus alicerces ainda seriam socráticos, aristotélicos e platônicos, para só ficar na tríade maior dos clássicos, as grandes vigas que se de forma alguma foram afastadas, pelo Kantismo se aperfeiçoaram ao lado dos seguimentos, aproximados pela idéia, “pensar a idéia”, notáveis e novos caminhos, como por exemplo, “pensar Deus” e a liberdade, esta que tanto influenciou politicamente.Confira-se o labiríntico "CRÍTICA DA RAZÃO PURA", do notável Kant.
Nessa esteira deve ser dogma da inteligência fazer crítica e estar aberto à crítica. Quem assim não se posicionar está fadado à estagnação no estamento cerebral.
Não houvesse crítica, o ser humano não teria ultrapassado os pórticos da insciência para alcançar seu desenvolvimento como pessoa fazendo a cultura dos povos. A crítica é o arauto das grandes inteligências que foram alicerces da formação do pensamento humano culto e do progresso em geral. Sem a crítica, o homem não estaria no atual plano do conhecimento, o grupo não teria feito conquistas saindo da mera sobrevivência para a organicidade.
Para se afastar do erro, o espírito (conhecimento educacional) há de estar treinado para a absorção. Sem a aceitação da crítica o mergulho na abissal incultura se aproximará velozmente e não haverá saída de forma alguma do obscurantismo. É, pois, questão de escolha.
MAS A CRÍTICA DEVE LIMITAR-SE AO RESPEITO À INDIVIDUALIDADE. Mas será sempre autossuficiente, e é preciso que assim seja, para avançar na escola da “paidéia” grega, provocar o debate.