A FILA
A FILA
Às vezes parece que a lei foi feita para não ser cumprida, ou mesmo, foi feita para dar emprego a certos cidadãos, e ser citada em determinadas publicações, ou nos momentos convenientes, a quem dela precisar fazer uso.
Lembro-me que há muito tempo, não havia nenhuma diferença nas filas. Nas agências bancárias, você entrava esperava, e por cavalheirismo, ou educação, dava-se a vez aos idosos, gestantes, e outras situações do gênero. Os tempos mudaram, e as mudanças chegaram. Nos bancos o que se vê hoje em dia é idoso, sentado, em pé, de muletas, cadeira de roda, na fila dos “idosos e demais classificações” aguardando para serem atendidos. Existem dois tipos de fila, para os dois tipos em alguns estabelecimentos é necessário à retirada da senha. Isto mesmo, a senha, é um número que marca a sua vez, por ordem de chegada. Aí entra a lei, que foi criada, contra os abusos que acontecem diariamente contra o consumidor, que além de ser sempre oprimido, nos bancos é mesmo martirizado. Nem sei se ainda está em vigência, lembro que tinha uma lei cujo texto dizia que o consumidor não poderia ficar mais do que vinte minutos na fila. Parece brincadeira, mas cada vez que vou ao banco e tenho que ir ao caixa, para aquelas atividades que são impossíveis usar os terminais eletrônicos, imaginem com o que sou presenteada, já sabem não? Duas horas, na fila de espera.
Outro dia, eu entrei , peguei a senha, e fiquei esperando, esperando, esperando. Do outro lado, estava a fila para o atendimento especial. Era muito maior do que onde eu estava. A senhora que estava a minha frente, reclamava de tudo, de todos, contou-me sua vida inteira, com direito ao “vale a pena viver de novo” e tudo mais, e não éramos atendidas. Até que um senhor de uns oitenta e tantos anos, saiu da fila especial e começou a perambular pela fila comum. Ele simplesmente desconheceu o espaço que havia entre mim e a senhora. Acomodou-se a minha frente e ficou falando sozinho. Estava aparentemente embriagado, e gesticulava como se estivesse falando com alguém. A senhora virou para o lado como se falasse para mim em voz alta: “Ele está bêbado, e não sabe o que está fazendo”. Eu fiquei calada, não tinha nada para falar, a não ser esperar os acontecimentos.
Após meia hora, chegou à vez de o senhor ser atendido. Ele tirou da sacola plástica um maço de contas para pagar, e ainda conversou com a moça do caixa, para minha surpresa sua velha conhecida, que o saudou com um sorriso costumeiro dizendo: - “Olá Seu Antônio, a fila hoje está mesmo muito grande, o senhor trouxe todas as contas da sua “família” para pagar, começou a digitar os valores e foi contabilizando os papéis que o senhor lhe dera”. Após ele ser atendido, chegou a minha vez, a moça do caixa, sorriu para mim e disse: “O Seu Antônio é um exemplo para muita gente, ele trabalha de “Office boy” para o pessoal da comunidade onde ele mora”.
Após ser atendida, virei às costas, e olhei para a fila para atendimento especial, ela continuava quase no mesmo lugar, e ainda vi mais de cinquenta pessoas para ser atendidas no lugar que estava o Seu Antônio.