LEMBRANÇAS QUE FICAM PRA SEMPRE


O trânsito nas grandes cidades, está cada dia mais caótico, principalmente em nosso país, em que o transporte público é precário.
Mas, nem sempre a vida foi assim.
Houve um tempo em minha infância, em que ir e vir aos bairros vizinhos ao da nossa pequena vila do Monjolinho, era uma festa.

Lembro-me com clareza como se estivesse nesse momento viajando dentro  da maquininha.  (Assim, era chamada pelos moradores locais o veículo que nos servia de transporte).
Quando eu,  avistava a maquininha, soltava das mãos de minha mãe ou  de minha avó e, corria para pegar um lugar na ponta do extenso banco. Adorava ir na beirada apreciando a linda paisagem da região.
Quando íamos visitar as tias num bairro vizinho chamado "Fabrica" eu, me divirtia esticando os braços e apanhando pedaços de folhas de avencas, a maquininha não tinha pressa nem fôlego e, ia devagar. Dando-me oportunidade de apreciar o belo passeio.
Dava pra sentir o perfume fresco das matas, pois, ela transitava por dentro delas.
Já naquele tempo uma mania me perseguia. Adorava imaginar, criar em minha mente estórias. Quantos devaneios não vivi a bordo daquele rústico meio de transporte.

Chegar ao local significava ter que descer da maquininha, mas também, representava uma mesa farta de guloseimas. As tias sempre esperavam minha avó Carmela, com um farto café da tarde.
Hum..., só de lembrar dá água na boca.
Minha avó tinha três cunhadas e, era imensamente querida por cada uma delas.
Hoje, já na idade madura, reconheço cada dia mais a bondade de minha avó que se fez amada e respeitada por toda a família. 
Ela visitava uma cunhada por vez. E minhas tias se esmeravam, na mesa que arrumavam para receber a querida visitante.
Eu, ia de lambuja e me regalava, rss.

Depois, de me deliciar com as iguarias, que se compunham de doces e geléias de frutas caseiras. Bolos de fubá, pão feito em casa, mel colhido na colmeia cultivada no quintal. 
Elas punham a conversa em dia, e eu, ia para o imenso quintal atrás de folguedos e distração.
Mesmo porque, minha avó sempre recomendava, enquanto me arrumava para o passeio: "Leninha, não esqueça que, conversa de adulto, não é pra criança ficar ouvindo, entendeu?". Eu, respondia que sim, afinal a viagem na maquininha, a comilança, mais um quintal diferente do nosso pra explorar, valia bem mais que as conversas de minhas tias e avó.

Na volta, vínhamos sempre com as mãos ocupadas, pois as tias, faziam questão de embalar os doces caseiros. Me lembro que na casa da tia Regina, havia um pé de pêra que minha avó chamava de pera de inverno. O porque do nome não sei dizer. Nem me lembro se o pé produzia no inverno.
Só me recordo que o gosto era delicioso. Nunca mais em minha vida, provei de uma pera tão suculenta e gostosa.
E quando a pereira estava carregada de frutos, lá vínhamos eu e minha avó, carregando uma sacola repleta de peras, pelo caminho até a maquininha.

O caminho da casa das tias, até o ponto da condução, era um capítulo a parte. 
Ruas de terra, com belas e simples casas. Cada morador querendo que seu jardim fosse mais bem cuidado que do outro.
E quem ganhava eramos nós, que tínhamos a visão de canteiros cobertos de dálias de todas as cores, lírios, palmas, margaridas, rosas, cravos, hortências. 

Ah, posso viver 100 anos, mas guardo a  certeza que nunca vou esquecer, das tardes que minha avó me vestia para irmos visitar as tias no bairro da "Fábrica".
E se fecho os olhos e, solto a imaginação, chego ainda hoje, a sentir o perfume da mata. O mesmo de quando viajava sentada no banco rústico da simples condução.
Por vezes o mergulho é tão intenso, que penso que vou ser capaz de trazer um galho de avenca. Arrancado das matas frescas por onde a maquininha passava.





 
Lenapena
Enviado por Lenapena em 16/03/2012
Reeditado em 17/08/2013
Código do texto: T3557382
Classificação de conteúdo: seguro