O Vendedor.
Na minha juventude fui vendedor, como tínhamos mais vendedores que mercadoria.
Resolvi viajar, passei pelo estado de Minas Gerais e fiz amizade com o Senhor Ferraz.
Eu reclamava por não ter o que vender, ele por não ter comprador.
Tomando uma cervejinha com ele, tive uma aula sobre sua mercadoria que mudou minha vida.
Sei que é irrelevante, mas ele estudioso, falou sobre o fumo e seu uso inclusive para remédio.
Falei para ele, sou o melhor vendedor, que o senhor conheceu até hoje, sua mercadoria e a melhor, se o senhor me der exclusividade, ficamos ricos.
Mais umas cervejinhas e além da exclusividade, me deu sociedade, pois nada entendia de vendas.
Quando visitei sua fazenda, vi que a colheita era feita de modo artesanal, mas mesmo assim.
Ainda tinha muita mercadoria estocada.
Senhor Ferraz, o que é aquilo?
Ah !
Aquele é fumo velho, não presta mais, vê a cor amarelada para marrom, é quando ele perde o sabor fica fraco.
Fiquei pensando naquilo.
Comecei a fazer contatos nas cidades vizinhas.
Mas parece que ninguém mais se interessava pelo produto.
Num acesso de loucura, voltei à fazenda.
O Senhor Ferraz com dó de mim falou, vamos queimar tudo e começar nova plantação, de soja talvez.
Eu que já havia sido conquistado por ele e pela sua família, falei ainda não.
Dê-me mais uma semana, depois a gente vê.
Pedi para os empregados que me embalasse aquele fumo que estava amarelado.
Todos riram de mim, mas psicologia de vendedor é coisa que até o diabo estremece.
Com a carga fui a quase trezentos quilômetros de distancia.
Parei em um pequeno hotel ao lado de uma cooperativa.
Entrei na companhia e procurei o comprador.
Eu tinha um pedaço daquele fumo embalado para mostrar para ele.
Falou, está mofado, ri na cara dele.
Ele não entendeu.
O que foi?
Este fumo que mostrei ao senhor é o caporal amarelinho, muito consumido na fronteira.
Queria que o senhor experimentasse, ele falou não sou fumante, mas espere aí, chamou o sogro e falou.
– Faça um cigarro com este fumo e diga o que acha.
Nunca vi analise mais cuidadosa, o velho talvez mais por vergonha e sabendo que ninguém daria para ele experimentar uma porcaria falou, tem sabor adocicado, acho que colocaram mel, por isso este amarelo e adocicado, já comprei deste fumo, mas o vendedor não voltou mais.
Assim foram chamados mais dois anciões, que não falaram a cidade, mas todos diziam ser de onde eu falei.
Não posso entregar minha remessa, primeiro porque é pouco, segundo porque estão esperando, que por causa da chuva teve um atraso.
No escritório dele, após algumas doses de uísque do bom, resolvi trair a venda entregando a ele o caporal amarelinho, com trezentos por cento de acréscimo do preço normal.
Voltei à fazenda e quis saber do Senhor Ferraz, como faria para deixar o fumo comum em condições iguais a aqueles estragados.
Basta molhar e deixar na estufa, o senhor tem?
Tenho.
Corri para a cidade registrar o nome do fumo, e o nome da empresa.
Recém inaugurada.
Dentro de seis meses na sala do Sr. Ferraz enquanto tomávamos uísque, ele falou:
- Você é um mágico salvou minha empresa e agora somos os únicos fornecedores.
Meu pessoal da fazenda é tão fiel que, morreriam, a ter que me delatar, aí aumentamos uma quantidade de mel e mais estufa.
Nasceu o caporal douradinho, com saída igual ou maior que o primeiro.
Hoje vendemos para países próximos e temos contato com os Estados Unidos, Alemanha, em breve também entraremos em seus mercados.
Agora também sou um especialista, como nossa colheita é pouca compramos a colheita de toda região para suprir o mercado interno.
Sou muito bom vendedor, mas fui comprado pela filha do Sr. Ferraz, agora meu sogro.
Ministro curso de vendas á nossos vendedores, e o Sr, Ferraz cuida da produção.
Devido à necessidade colocamos a família na empresa. Todos estão se saindo muito bem e a firma crescendo.
Às vezes um acidente é prejudicial, outra nos dá a solução para vários problemas, como caso de inúmeras vacinas, que surgiram de um erro.
OripêMachado.