Poeta sim. E daí?
Estava preparando uma mini-biografia exigida em um concurso literário, quando comecei a escrever:
“Wesley Devai Rocio, fotógrafo, poeta amador...”
E algo me incomodou. “...poeta amador...”, porque tenho que usar o amador depois de poeta? Eu nunca vi poeta profissional, ninguém ganha dinheiro com poesia. Já vi muitos ganharem dinheiro com crônicas, contos, romances, artigos etc. E poesia? O máximo que pode acontecer é o poeta ter uma coluna em algum jornal, site ou revista onde dá pra ganhar uns trocados. Mas não dá pra viver disso! Quem talvez ganhe fazendo versos é publicitário, porém os versos em si (alguns realmente belos), são apenas um recurso de suas peças, não são poesia. Cheguei à conclusão que não existe nem poeta amador e nem profissional (Deus me livre!).**
Temos o costume quando denominamos alguém poeta achar que estamos colocando-o no mesmo nível de Álvares de Azevedo, Camões, Drummond, Cruz e Souza, Breton... Só que esquecemos que esses poetas, são a nata da poesia e que abaixo deles, alguns obscuros até acima*, existem milhares, milhões de poetas espalhados por aí. Basta dar uma simples pesquisa no Google. Têm poetas ruins, bons, excelentes, poetas tristes, poetas românticos, malucos, excêntricos, caretas, afetados (ih! é o que mais tem!), humoristas, sombrios, religiosos, ateus, infantis, o que só escreve sonetos, o aficionado em métrica, o que não está nem aí pra métrica e tem os célebres também, que são minoria. Fama é uma criatura muito complexa, que não estou com paciência de discutir agora.
O que quero dizer é que tu poeta não é nenhum alienígena, nenhuma aberração, não é melhor, nem pior que ninguém por ser poeta. Então porque essa timidez em se denominar poeta? A poesia está viva, tem poetas em todas as esquinas, tem poesia saindo do forno a cada minuto em todo mundo. Só que são tímidos, uma multidão de tímidos se escondendo com seus papeluchos, em gavetas, em sites e blogs obscuros, e nunca, jamais admitindo ser o que são: Poetas. Vamos parar com isso gente!
Continuei minha mini-biografia...
“Wesley Devai Rocio, fotógrafo, poeta...”
* Sabe-se que por desobediência e traição pode ler hoje Kafka, que pediu a um amigo que destruisse todos os seus escritos. Não se tratava apenas de poesias, mas é um bom exemplo
** Carlos Drummond de Andrade era jornalista, Cruz e Souza, jornalista e arquivista, Augusto dos Anjos, professor e advogado... Sem falar nos poetas que se sustentavam com seus romances, colunas em revista onde publicavam artigos, contos etc. Não estou falando que nunca ninguém ganhou nenhum tostão com poesia, apenas que poesia nunca foi o suficiente para se sustentar integralmente.