_Mulheres e seus meneios

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É extremamente complicado falar das mulheres. Primeiro: devemos ter o cuidado de não as ferir nem as magoar. Beleza é fundamental (concorda?), mas com jeitinho carinhoso e malandro é possível ofendê-las, elogiando; segundo e, principalmente, porque não somos verdadeiramente belos, nós brutamontes e trogloditas homens, para condenarmos numa mulher a falta daquilo que não temos em sobejo, por casuística vaidade ou por acharmos que o imortal poeta tinha razão, simplesmente. Poetas também se enganam e fingem, mesmo que incompletamente na completude da verve[1] poética.

Falar das mulheres é falar de ausências preenchidas – não a de pedaços complementares, mas de inteiros que coabitam; é falar de angústias resolvidas ou de felicidade tempestiva[2]; é revelar aos pobres homens, aparentes donos do mundo, que o supremo mestre da humanidade aqui também habita, o nosso antípoda[3], a mulher.

Repare os característicos do caminhar masculino. Que horror! Somos mesmo descendentes dos primatas... De igual modo, avalie sucinta e atentamente a diferença entre as pegadas masculinas deixadas ao relento e o deambular[4] encantador, o quase levitar de toda mulher quando nos brinda, ao caminhar, modificando a paisagem e o tempo? Que leveza! Que requebrados mais harmoniosos... Que marcação! São pisadas ritmadas que sentenciam canções de amor. A cada passo uma batida. E a sucessão de batidas quase sempre resulta em festa!

Homens fazem compras. Mulheres namoram as mercadorias. Elas entram nas lojas e se inicia um flerte. Fazem poses, põem uma das mãos na cintura (alguns estudiosos afirmam existirem variações em relação a esse detalhe corporal) e tocam carinhosamente cada peça – nesse contato já existe relação de afetividade incipiente[5]. Elas conversam e já se sentem íntimas, perguntando, inclusive, se está legal... Imaginem a cena: uma meiga e gentil mulher de papinho em plena luz do dia com uma desconhecida peça de vestuário, perguntando:

– Ficou legal?

– ...

Não há preocupações. Todas entendem a amiga, ficam alheias a preconceitos masculinos – algumas até acham que a perguntinha boba foi lacônica[6] demais! A explicação? Simples. Enamoram-se antes da consumação do ato junto ao caixa! E as perguntinhas, isoladamente ou em grupos, são motivos de festa!

Se o objeto do desejo é uma roupinha, elas a vestem num primeiro contato, colocando cada item junto ao corpo. Nascem historinhas de amor...

E nós homens, hein! Sempre apressados, levamos pra casa qualquer vestimenta que nos cubra e nos proteja do frio ou do calor, sem nenhuma ou quase nenhuma afetividade.

Se elas – as mulheres – buscam um brinco pra enfeitar as orelhinhas, colocam-no junto ao corpo, frente ao espelho, e se inicia outro processo que apenas elas são capazes de entender. E nós homens, insensíveis, nada percebemos, submergimos no caos e ficamos alheios a essas maravilhas da vida diariamente.

Animais! Ignoramos o odor de cadela no cio. Esquecemos que exclusivamente das entranhas femininas, verdadeiramente femininas, é que fluem as mazelas menstruais. Nossas narinas não cheiram um palmo além do nariz! Perdemos a sensibilidade do olfato.

Elas podem ser meigas, dóceis. Algumas são requintadas. Outras meretrizes. As velhas são experientes e contrastam com as novas, insolentes. As requintadas são melindrosas – finas no trato. As meretrizes, enganosas – comidas no “prato”. As experientes são cautelosas, comedidas. As insolentes, descuidadas e “bolinadas” – é o que dizem.

Animais! Não percebem os seios ao vento desafiando a gravidade? Que descuido e que maldade perder esse espetáculo em nome de um jogo de cartas!

Olhem. Observem. Sorvam, ao menos por curtos instantes, o dorso malhado da jovem nubente. Que pernas fartas! Será que suas mãos não conseguem tocar nem embaralhar mais nada além desse estático rei destronado?!

São honestas, insanas; umas santinhas; outras profanas; São tímidas, recatadas; outras atrevidas, atiradas. Quais os tipos que mais nos perturbam? Esqueci... As cartas.

São loiras. Ah! As loiras... Outras morenas. Ah! As morenas... Outras... Ah! As outras: as ruivas, as mulatas, as pardas, as gueixas orientais...

São todas belas, todas místicas e únicas. Todas me vencem. Para vocês, o grito de um perdedor: Animais!

Fortaleza – CE, 08 de maio de 2008.

[1] Imaginação viva. Vivacidade ao escrever, falar ou conversar.

[2] Oportuna, conveniente.

[3] Oposto, contrário.

[4] Passear, vaguear.

[5] Que está no princípio. Insipiente = ignorante, néscio.

[6] Breve, sucinta.

Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 15/03/2012
Código do texto: T3554965
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