RAIZ

As horas demoravam a passar

A expectativa era angustiante

Toda vez que a porta se abria eu reclinava a cabeça

Achando que tinha chegado minha vez.

Assim foi por quase uma hora

Repentinamente surge à porta uma moça toda de branco

Chamando-me pelo meu nome pedindo que eu á acompanhasse

De pronto atendi ao pedido e fui conduzido à sala de “tortura”

Depois de estar devidamente acomodado na cadeira reclinável

Olho ao lado e noto que há uma série de instrumentos de formatos esquisitos

Que serão usados contra ou a favor de mim

Delicadamente a moça de branco pede para que eu abra a minha boca

Sem fazer cerimônia põe dois de seus dedos e com movimentos circulares

Acaricia minha gengiva (superior)

Foi aí que senti um gosto estranho na boca e

Em seguida uma dormência surgindo lentamente

Limitando meus movimentos labiais

Na seqüência, aquela menina de aparência frágil e delicada

Em posse de uma seringa com agulha

Sem o mínimo de dó, aplica o golpe derradeiro: o anestésico

Em fração de segundos sinto como que quilos e quilos pesassem em minha face

È chegada á hora da tortura

Que raiz profunda! - exclama a moça mexendo sem parar em minha boca

Consegui! Pronto!

-Pensei que seria mais difícil! - desabafa ela contente em cumprir seu papel

Enquanto isso, boquiaberto acenava com a cabeça em sinal de aceitação

Não via a hora, de tudo aquilo acabar

De repente sinto algo escorrer pelo canto da boca

Involuntariamente passo a mão na tentativa de secar

Percebo que é sangue, muito sangue

A moça de branco me diz que é normal. Que logo vai estancar

Sutura. Voltas e voltas com a agulha e linha e finalmente o nó

-Prontinho!Acabamos!

Fala-me satisfeita segurando a raiz do meu dente com uma das mãos.