Mania de Doença

Febre, tremedeira, hipertensão, dor de dente, garganta ruim, arritmia, etc. Se o leitor, ao se deparar com esta listinha, enxerga um cardápio repleto por uma diversidade imensa de oportunidades, certamente se enquadra na figura que iremos homenagear nesta crônica: o hipocondríaco, ou aquele com mania de doença.

Quem não conhece o sujeito que chama o farmacêutico pra padrinho do caçula? Aquele cara que tem sempre a expressão de piedade compulsiva não pode comer que o estômago responde mal e se não comer, dá vertigem, fraqueza. Quando chove, é gripe na certa, com jeitinho de pneumonia. Se tem sol, dá enxaqueca (o que ele diferencia detalhadamente da dor de cabeça e do princípio de sinusite que ataca quando venta) e até sobe a pressão que não anda nada bem.

Tirou o apêndice na adolescência, por precaução, e ainda sente o danado. É que não o enterraram direito! Não joga mais bola porque tem uma fisgada na coxa esquerda. Saiu da academia porque é alérgico a suor e tem virose direto, com aquela profusão de microorganismos. Mas anda deprimido, preocupado com o sedentarismo. Isso ainda afeta o coração!

Hipocondríaco não pode ver dia de festa, feriado, etc. No último Natal, saiu de ambulância, não conseguia respirar porque foi contar pra cada convidado o que tinha acontecido no aniversário da Clarinha, emocionou-se e pimba! No carnaval foi um problema, sentiu tontura, teve que voltar pra casa, deu trabalho. Também, foi tirar o gosto da vodca com o antiinflamatório.

No fórum, é requerente de uma dúzia de ações. Tudo por dano moral contra o salafrário do clínico geral que não receita nem analgésico. Falar em fórum, a menina do atendimento ficou de levar um chazinho de agoniada pra ele. Disse que cura qualquer desconforto abdominal. Tá pensando até em plantar uma horta medicinal em casa.

Se o leitor conhece um hipocondríaco, vai a dica de nunca perguntar como ele está passando. A não ser que esteja disposto a escutar um catálogo médico decorado, indefectível. É sempre aquela voz manhosa, gemendo clemência com os olhinhos apertados; Eu num to bem não, viu?

Quer deixar o hipocondríaco nervoso? Peça um atestado médico ou a receita pra comprar o elixir onipotente que ele tanto sonha. É capaz de juntar as forças armazenadas que lhe restam e o atacar com os mais moralistas dos argumentos. Quando não te joga Deus na cara.

Se o Roberto pode homenagear as gordinhas, porque este cronista não pode olhar pelo desamparo daqueles que têm mania de doença? Hipocondríacos, recebam este abraço desprovido de bactérias e saibam que compreendo toda a carência de atenção e cuidados de todos vocês. E se espirrar, saúde!

Giu Santos
Enviado por Giu Santos em 14/03/2012
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