Lembrando o dia da poesia

Qualquer observador não vulgar reconhece a doce e querida voz da poesia nas expressões mais simples, no entanto verdadeiras. Nesse dia 14 de março, Dia Nacional da Poesia, desvio-me da óbvia significação da palavra para alargar esse conceito nas coisas mais simples ditas por menestréis de rua, cantadas por rameiras sem eira nem beira, escritas com a mínima lógica pelos malucos com o mais triunfante desprezo pelas regras gramaticais absurdas e escravizantes. A mundividência do poeta se expressa pelos mais singulares caminhos ou meios de transmissão.

Mas falo hoje da poesia escrita, de um poeta meu conterrâneo que escreve poemas naïf, aquela arte que é produzida por artistas sem preparação acadêmica, mas sem que isso signifique qualidade inferior de suas obras. A simplicidade da poesia de Agenor Otávio emoldura sua realidade artística, com sua perene recorrência às lembranças da terra natal.

Encontrei Agenor Otávio em Itabaiana, o qual me fez um pedido: fazer um prefácio para o seu novo livro de poesias. A cor local é mais uma vez a tônica. Tu de lá e eu de cá, meu nobre Agenor, cantaremos essa terrinha até o fim de nossos dias. Tu de lá e eu de cá, e no meio um paredão a nos por em posição de defesa da verdadeira poesia, os pés fincados no chão da Rainha do Vale e a cabeça nas nuvens, sonhando os sonhos líricos e as trapaças do mal de amor, e viva a poesia, aprochegue-se o poeta e seu livro, agarrado tal qual carrapicho aos peitos carnudos da pátria mãe itabaianense e sua beleza desequilibrada, mas pura.

Conforme a chupada nos peitos, se vê as intenções do mamador. O poeta mama repuxando o néctar luminoso do seu amor filial e devotamento pelos delicados e sinuosos caminhos históricos da província. O mamador por interesse suga o sangue e a própria alma da cidade no ritmo convulsivo e apressado da corrupção. Subjugada, a cidade apela para seus poetas, cansada de andar pratrasmente. Só a poesia salva a cidade, porque a poesia não faz como Judas Iscariotes, que trai a quem mais ama.

“A poesia pode ser como uma fera no bote e viaja num vôo rasteiro, não tem brevê e voa leve breve entre loopings de anjos”, conforme Chacal.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 14/03/2012
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