A REBIMBOCA DA PARAFUSETA DESPARAFUSETADA

Eu já estava ali sentada bem além do tempo que a lei nos concede como razoável para que permaneçamos dentro duma instituição bancária, e meu objetivo era o de apenas solicitar uma informação técnica.

Informação? Técnica?

Desistam disto!

É exatamente aí que as coisas se enroscam na constante rebimboca da parafuseta engripada do nosso dia a dia. São inúmeras...

Eu não sei "por que cargas d'água" tenho um "sexto sentido " tão aguçado que logo ao entrar no setor de atendimento tive a nítida sensação que eu sairia de lá com a mesma dúvida com a qual lá entrei.

Todavia, eu me situava numa posição estratégica, não naquela que Napoleão perdeu a guerra...mas quase.

Na verdade, e não é que eu seja pessimista não, mas é que atualmente por aqui perdemos as guerras cotidianas a cada instante de todos os dias.

O despreparo e o desrespeito são flagrantes em tudo e creio que não descreverei nenhuma novidade.

Ali bem inerte e atenta , ao lado daquela porta giratória vedete de todas as confusões dos bancos, eu pude sentir "o mico" pelo qual o cidadão de bem passa todos os dias.

É demais!

Como se não bastasse a porta que sempre apita, agora temos senhas, coisa de primeiro mundo que só funciona no primeiro mundo, pois a dita cuja duma máquina impressora de senhas ali fica escondida antes da porta giratória, e assim, depois que um distraído que não pegou a senha de atendimento consegue driblar a porta giratória e entrar vitoriosamente no setor desejado, claro, sempre semi-nú, o pobre quase pelado tem que voltar lá fora para pegar a senha esquecida. E toca passar mais raiva.

Pois vejam o drama, porta que o libera para entar pela primeira vez sem a senha não o libera na segunda, agora com a senha, só por causa da rebimboca da parafuseta desparafusetada.

Então, vejam o que presenciei:

O alarme soou estridentemente para um frágil senhorzinho com bengala.ALGUMA NOVIDADE?

-Senhor, a porta travou, largue a bengala aí fora: falou "o guarda otoridade" lá de dentro, com toda a autoridade do mundo!

-Mas como isso? Se a minha bengala é de madeira! E se eu a largar eu caio, são as minhas próteses de joelhos que disparam a máquina.

-Próteses? O que é isso? O senhor tem "testado médico" por escrito "disso"?- falou a otoridade todinha armada.

-Tenho, tá aqui.

-Hum, deixa eu entender...prótese de...mas o que que é isso?

-É metal moço! Metal nos meus dois joelhos!

-Então chama lá o gerente! Só o gerente autoriza sua entrada.Senão não entra!

E até o gerente largar o telefone, a rebimboca da parafuseta engripou e esperou por um tempão. E a fila também.

Liberado o senhorzinho, mas só depois da exímia peritagem duma "junta" de técnicos bancários mais o gerente, a porta emperrou de vez e nehuma otoridade desengripava a tal rebimboca desparafusetada. Tampouco o gerente todo perito.

E pensam que terminou ali? Que nada! Tinha mais para o meu texto.

De repente vi uma senhora empurrar a porta com raiva para entrar como se a estivesse arrombando. Ia e vinha...ia e vinha...e nada! Parecia conhecer as otoridades lá de dentro.

Olhava feio para os guardas que se trombavam para fazer a porta girar para que ela entrasse.

Tentavam liberá-la em vão, mas fato é que o nosso país parece que se perdeu em tantas rebimbocas travadas que pipocam por aí...

Assim que a mulher foi liberada entrou bufando a passos duros e, sem olhar para os lados, falava para dentro de si mesma uns bons palavrões.

-Bom dia dona Graça, e bom trabalho! -lhe desejou o gerente.

Então ela seguiu com seus apetrechos na mão, com seu balde de água, alguns multiusos de limpeza e com sua vassoura para dar início à faxina do dia.

Não sei...mas penso que não daremos solução às nossas tantas rebimbocas das parafusetas, nem com a melhor faxina deste nosso atual mundo totalmente desparafusetado... principalmente de bom senso.

Ah sim, e eu?

Perdi minha guerra do dia porque sai de lá com a mesma dúvida com a qual lá entrei.

Não disse? E depois há quem diga que sou impaciente...