O suicídio da existência

Todo mundo num certo momento da vida seja ela boa ou ruim, sofre uma crise existencial, por mais patético ou brega que isso pareça ,é um fato!

Como sou humano (por mais que não pareça, isso também é um fato!) também tive a minha... Não sei por que essas crises existenciais sempre são mais comuns nas tardes de domingo. Já percebeu o tanto que as tardes de domingo são tristes? Tenho certeza que todos já se sentiram meio depre num crepúsculo dominical... Minha teoria é que: o celebro tenta avisar o corpo que o final de semana está findando, e o próximo dia é a tenebrosa segunda feira, como nem sempre nossa cabeça compreende nosso corpo ou vice e versa, a um desencontro de informação que nos proporciona milésimos de segundos nostálgicos. Não adianta... Final de domingo é sinônimo de tristeza... Sei disso desde que tinha onze anos e um primo desgraçado me falou que no ano 2000 o mundo ia acabar...

Rapidamente fiz as contas e tive a triste conclusão de que iria morrer aos 20 anos, isso se eu tivesse a sorte de estar vivo para ver o fim do mundo e sucessivamente o meu fim.

Bum! Explodiu ai a minha primeira crise existencial. Lembro que nas tardes de domingo eu ficava no fundo de casa refletindo sobre minha existência, ao som da voz do Silvio Santos gritando- quem quer dinheiro?

O que eu vim fazer nesse mundo para morrer com 20 anos?...Droga! Só tenho mais 10 anos de vida!... Será que vou morrer sem ter dado nenhum beijo na boca? Vou morrer virgem?... Esses eram meus pueris pensamentos.

Com o passar dos anos beijei na boca, perdi a virgindade e o mundo não acabou. Mais confesso que na virada de 1999 para 2000 deu um medinho... Ta bom! Deu um Kgaço mesmo, dos de tremer as pernas, afinal esse mundo é grande e estranho, mais estranho do que grande... Nessa estranheza toda, vai que o filho da puta do meu primo tava certo...

Como todos sabem o mundo não acabou em 2000 e ao longo dos anos tive outras mini crises existenciais e tenho certeza que vou ter outras até o mundo acabar ou quem sabe eu acabar... A última que tive foi vendo um jornal onde assisti uma matéria de um cara que tinha suicidado.

Sempre tive a opinião que só existe uma questão filosófica verdadeira: o suicídio.

O escritor Frances Albert Camus, quando disse que “boas razoes para morrer são boas razoes para viver” simplificou bem meu pensamento. Ou seja, se você não tem razão para viver o melhor é morrer... Mais por mais poético que isso seja não é uma decisão simples de se tomar. Tipo, Ah ninguém me ama ninguém me quer... Já sei vou me matar!

Fiquei com essa questão na cabeça e uma imensa onda de pensamentos inundou-me. Por que não vejo cachorro, gato, papagaio suicidar? Só os seres baseado no carbono e descendente de primatas pode ter essa capacidade. Só os seres humanos são capazes de tirar sua própria vida.

Fui atrás das respostas em um livro do sociólogo Frances Émile Durkheim que estudou esse assunto (provavelmente ele teve a mesma crise existencial que eu tive... rs.) e escreveu um livro chamado O suicídio.

Se o equilíbrio esta no apego a si, o suicídio esta no desapego a vida, no “nada mais me importa”... Observe que uso o verbo “importar”, que significa portar para dentro, trazer para dentro. Quando vivemos apenas a “exportação” – quando só coloco pra fora e não recebo para dentro- crio a possibilidade de me desapegar e quando nos desapegamos não temos mais sentido para viver...

Cada pessoa tem claro, seu próprio modo de pensar as coisas. Eu por exemplo gosto de pensar pela ausência... Se eu não jantar que falta isso me fará? E por ai vai...

Gosto de pensar assim, pois razão de carência é razão de existência. A propósito, foi pensando que fui surpreendido mais uma vez... Se eu não existisse que falta faria?...O que estabelece a razão da minha existência?

Vejamos... Muito além, nos confins inexplorados da Via láctea, há um pequeno sol amarelo e esquecido. Girando em torno desse sol, a uma distancia de cerca de 150 milhões de quilômetros, há um planetinha verde azulado absolutamente insignificante em vista dos outros astros existente no universo... Nesse planetinha existem mais ou menos 50 milhões de espécie, os cientistas só classificaram três milhões delas. Sendo uma dessas espécies seres bípedes baseados em carbono descendentes de primatas chamados de Homo sapiens, que atualmente são sete milhões... Pois é desses, um sou eu... Foi depois de pensar nisso tudo e ver um por de sol cheio de vermelhos e amarelos, pensei: Puxa como sou insignificante! O interessante é que ontem pensei a mesma coisa, embora tivesse chovendo. Voltei a pensar em suicídio- dessa vez respirando fundo após ter recebido minha fatura do cartão de crédito.

Andre Mota
Enviado por Andre Mota em 13/03/2012
Reeditado em 16/03/2012
Código do texto: T3551867