MÚSICAS INFANTIS
MÚSICAS INFANTIS
(crítica construtiva)
Sempre achei que as nossas músicas infantis têm um cunho cultural que ajuda no resultado da sociedade em que vivemos. Um povo inseguro, violento, individualista, materialista e com vontade de ser deferente, mas nunca consegue, pois há algo lacrado desde a mais tenra infância que dificulta essa mudança.
Há pouco tempo ouvi umas músicas infantis que me chamaram a atenção. Elas diziam assim:
Boa noite, linda menina,
durma bem.
Sonhos doces venham para você,
Sonhos doces por toda noite.
Outra:
Esse seu sono, Deus deu e é um dom.
Não precisa de cobertores
Muito menos de ededrom.
Sou um pai comprometido com a educação. Sempre questionei o jeito de educar uma criança, não em escolas, mas em toda a realidade onde ela vive. E assim comecei a observar as canções que nossas crianças registram enquanto os cérebros delas ainda estão novinhos em folha.
Elas aprendem:
Boi, boi, boi, boi da cara preta,
pega essa menina que tem medo de careta.
Essa musiqueta é uma ameaça, é algo como "dorme logo, porra, senão o boi vem te pegar"? Fazer uma criança dormir. Será que o soninho dela vai ser tranqüilo e relaxante?
E a "nana neném que a cuca vai pegar..."? Caramba!... Outra ameaça! Agora com um ser ainda mais maligno que um boi preto!Está vendo, tudo isso ajuda na formação de mais um cidadão.
O problema do Brasil é que a sua população em geral tem uma estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa. Por que isso acontece? Trauma de infância!!!! Trauma causado pelas canções da infância.!!!! Pela linguagem dos pais...pelo ensino em muitas escolas. Vou explicar: nós somos ameaçados, amedrontados e encaramos tragédias desde o berço! Por isso levamos tanta bordoada pela vida e ficamos quietos ou violentos. Exemplificarei minha tese:
Atirei o pau no gato-to-to,
Mas o gato-to-to não morreu reu-reu
Dona Chica-ca-ca admirou-se-se
Do berrô, do berrô que o gato deu Miaaau!
Esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara da falta de respeito aos animais (pobre gato) e crueldade por parte do homem. Por que atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de "D.Chica, que admirou-se do berro que o gato deu". O que é infocado na canção é o berro do gato, cada criança quer dar o berro mais alto, isso aumenta mais a tragédia do pobre animal. Uma vergonha!
Outra música que vejo uma tragédia na educação:
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre, De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.
Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces!! É impossível não lembrar do seu amiguinho rico da infância com um carrinho fabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de plástico... Fala sério!!!
Vem cá, Bitu!
vem cá, Bitu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá,
Não vou lá!
Tenho medo de apanhar.
Quem foi o adulto sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bitú.....
Marcha soldado, cabeça de papel!
Quem não marchar direito,
Vai preso pro quartel.
De novo, ameaça! Ou obedece ou você vai ser preso no quartel. Chama o jovem sonhador de cabeça de papel. Sem falar que ser preso no quartel é coisa horrível. Não é à toa que o brasileiro admite tudo de cabeça baixa.... E o deseducado que fez essa rima deveria ser preso por desacato à boa educação.
A canoa virou,
Quem deixou ela virar,
Foi por causa da (nome de pessoa)
Que não soube remar.
Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas, muitas vezes, a dedurar e a condenar o coleguinha. Quem fez esses versos, no mínimo é um doente.
Bate nele, mãe!
Samba-lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de umas boas palmadas.
A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada e necessita de cuidados médicos. Mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bitú......!!
O anel que tu me deste Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou...
Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa passagem anos a fio?
Quanta ironia, aprender isso na escola então!
O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.
E ainda incita a violência conjugal (releia a primeira estrofe). Precisamos lutar contra essas lembranças, meus amigos! Nossos filhos merecem um futuro melhor! ah!!! Não me esqueci desta:
Passa, passa três vezes..
a última que ficar tem mulher e filhos
que não pode sustentar...
aí começa o desemprego...
Eu tenho um CD com 32 músicas infantis, todas para dar auto-estima a essa gente pequena que cada dia vão ficando maiores. E começam a nos alcançar. Que eles não sejam ameaças para nós e nem concorrentes, mas irmãos. E isso depende somente de nós!
Espero que ajude aos educadores a pensarem mais sobre a educação de nossos cidadãozinhos que serão gente grande bem mais rápido do que pensamos.
Acácio Nunes