Sertão: a vida ainda espera

“Aos que o destino aquinhoou determinadas capacidades, cabe o dever de postarem-se na defesa dos menos ou nada favorecidos”.

Vento forte e quente. Calor quase insuportável. Inclemente, o Sol resseca a terra árida sobre a qual passam maltratados pés desnudos.

Nem mesmo o estridente carcará pode mais ouvir-se. De quando em quando, a barulhenta gralha cancã se faz presente, à busca do mandacarú.

À volta do casebre, algumas galinhas ciscam à procura de alimento. Mais adiante, poucas cabras, um jegui esquálido: sem água, morrem lentamente…

No roçado, os pequenos brotos, surgidos após a chuva e agora murchos, a crestar, lembram os seios descarnados das mães do agreste, cujos filhos tentam sugar-lhes o parco leite.

Crianças com barrigas enormes e de olhar triste, perdido, no qual não se vislumbram os sonhos comuns da infância… Mesmo sem saberem, revelam a saudade de um futuro que a muitos será negado.

Isto tudo tem ocorrido há centenas de décadas em nosso Nordeste, região sob a qual há o mais volumoso lençol d’água do mundo.

Amigos leitores,

Esse triste quadro revela como grande parte da nação vive- ou melhor- tenta sobreviver.

É na quietude que nossos irmãos, conformados com a triste sina, nada mais esperam…

E esta desumana verdade em nada muda com as desafinadas vozes de seus representantes nas diversas esferas legislativas, ao propalar riquezas que não são divididas, mas por eles mesmos consumidas.

Afinal, até quando permitiremos isso ocorra? Certamente não tem bastado bradarmos aos ventos todos nossos protestos. Temos que nos unir para tentar mudar o que tanto nos enche de indignação.

Mirna Cavalcanti de Albuquerque

Rio de Janeiro, 12 de arco de 2012