Todo Mundo Eu
Todo Mundo Eu
Todo mundo quer um carinho, um par, uma cara metade. Cruzes, todo mundo soa confusão, gritaria, balbúrdia. Com todo mundo a coisa fica muito genérica. Todo mundo, pensando bem, não é verdadeiro. Eu sou.
Todo mundo acredita em alguma coisa, inda que secretamente. Até o ateu, que propaga não acreditar em nada, acredita, e como. O deus do ateu é a matéria. Mas a crença de todo mundo tem um tom de sofisma, então voltamos à proposição inicial, que não é verdadeira. Eu sou.
E ainda digo sim, minha cara, estou indo, mas ainda não fui e você continua direta e vaga, meiga e irônica.
Todo mundo sofre de impermanência. Eu idem. Posso ser (ou sou?) uma projeção, um sonho, uma possibilidade, uma reencarnação, um número longo divisível apenas por si mesmo, posso ser (ou sou?) a ressureição, provavelmente noutra dimensão, não nesta, nesta posso apresentar-me sem artifícios igual a uma gamela, complicado feito mosaico, posso me abstrair, abstrair, posso desejar uma doença para me transformar noutra coisa ou para justificar o que eu não sou, posso apenas ser uma outra coisa, saudável, saudável como um peixe e simples como uma tigela.
Todo mundo chuta na trave. Eu também.
Todo mundo faz gol. Mentira, e sou tão verdadeiro como suco de cajá num inverno finlandês.
Queria te dizer coisas legais, para não reverberar frívolo, banal, você sabia que num testemunho emocional 85% deve-se ao exagero e 15% ao perjúrio?
No fundo eu queria agradecer todo mundo. Apertar múltiplas mãos, dizer muito obrigado, a você inclusive, e acrescentar que a cada dia tento fazer as pazes com os meus erros, fugir deles pouco adianta, melhor ficarmos amigos, e imagino ainda, veja você, conversas póstumas, pombas(!), em algum lugar a gente vai ter de se encontrar para colocar pingos nos jotas e is. E você me veria dizer coisas como: olha, sabe o que é, eu me sentia mal pra caramba naquela época e não fazia idéia pelo que você estava passando. Eu mesmo nem me agüentava...Para outra pessoa definitivamente eu diria: aquilo era medo, me perdoe, eu sei, parece maluquice, mas precisava te dizer...
Infelizmente, uma das interpretações mais corretas do mundão é que ele, em vasta porção, nada mais é do que um teatro. E poucos estão preparados para ler no script as palavras erro e perdão, vinculadas a primeira pessoa.
A quantidade de máscaras à disposição extrapola as mais complicadas noções. Posso me fantasiar de néscio, arcano, celeuma, jactância, sindicância...
Todo mundo se esquece (eu idem) da Lei de Exupéry: “Ah!!! Mas se tu me cativas... nós teremos necessidade um do outro”.
Todo mundo rei, todo mundo engraxate, por conta de um fragmento no disco rígido o rei não pode dizer ao engraxate: sinto sua falta, menos pelo vosso lustro em minhas chinelas e mais pelas anedotas que contas, pela sabedoria que tens.
Todo mundo tem muito mais semelhanças do que diferenças.
Desimporta de que maneira eu, ou todo mundo, queira pretender o que não se é. Há um dado que nos unifica incontestavelmente:
Eu Sou um Ponto de Energia. Todo Mundo Idem.
(Imagem: autoria desconhecida)
Todo Mundo Eu
Todo mundo quer um carinho, um par, uma cara metade. Cruzes, todo mundo soa confusão, gritaria, balbúrdia. Com todo mundo a coisa fica muito genérica. Todo mundo, pensando bem, não é verdadeiro. Eu sou.
Todo mundo acredita em alguma coisa, inda que secretamente. Até o ateu, que propaga não acreditar em nada, acredita, e como. O deus do ateu é a matéria. Mas a crença de todo mundo tem um tom de sofisma, então voltamos à proposição inicial, que não é verdadeira. Eu sou.
E ainda digo sim, minha cara, estou indo, mas ainda não fui e você continua direta e vaga, meiga e irônica.
Todo mundo sofre de impermanência. Eu idem. Posso ser (ou sou?) uma projeção, um sonho, uma possibilidade, uma reencarnação, um número longo divisível apenas por si mesmo, posso ser (ou sou?) a ressureição, provavelmente noutra dimensão, não nesta, nesta posso apresentar-me sem artifícios igual a uma gamela, complicado feito mosaico, posso me abstrair, abstrair, posso desejar uma doença para me transformar noutra coisa ou para justificar o que eu não sou, posso apenas ser uma outra coisa, saudável, saudável como um peixe e simples como uma tigela.
Todo mundo chuta na trave. Eu também.
Todo mundo faz gol. Mentira, e sou tão verdadeiro como suco de cajá num inverno finlandês.
Queria te dizer coisas legais, para não reverberar frívolo, banal, você sabia que num testemunho emocional 85% deve-se ao exagero e 15% ao perjúrio?
No fundo eu queria agradecer todo mundo. Apertar múltiplas mãos, dizer muito obrigado, a você inclusive, e acrescentar que a cada dia tento fazer as pazes com os meus erros, fugir deles pouco adianta, melhor ficarmos amigos, e imagino ainda, veja você, conversas póstumas, pombas(!), em algum lugar a gente vai ter de se encontrar para colocar pingos nos jotas e is. E você me veria dizer coisas como: olha, sabe o que é, eu me sentia mal pra caramba naquela época e não fazia idéia pelo que você estava passando. Eu mesmo nem me agüentava...Para outra pessoa definitivamente eu diria: aquilo era medo, me perdoe, eu sei, parece maluquice, mas precisava te dizer...
Infelizmente, uma das interpretações mais corretas do mundão é que ele, em vasta porção, nada mais é do que um teatro. E poucos estão preparados para ler no script as palavras erro e perdão, vinculadas a primeira pessoa.
A quantidade de máscaras à disposição extrapola as mais complicadas noções. Posso me fantasiar de néscio, arcano, celeuma, jactância, sindicância...
Todo mundo se esquece (eu idem) da Lei de Exupéry: “Ah!!! Mas se tu me cativas... nós teremos necessidade um do outro”.
Todo mundo rei, todo mundo engraxate, por conta de um fragmento no disco rígido o rei não pode dizer ao engraxate: sinto sua falta, menos pelo vosso lustro em minhas chinelas e mais pelas anedotas que contas, pela sabedoria que tens.
Todo mundo tem muito mais semelhanças do que diferenças.
Desimporta de que maneira eu, ou todo mundo, queira pretender o que não se é. Há um dado que nos unifica incontestavelmente:
Eu Sou um Ponto de Energia. Todo Mundo Idem.
(Imagem: autoria desconhecida)