Merdópole
“Tsc, nunca achei que isso aqui fosse dar em nada mesmo...” - Eu digo ao ver um gordo besta anunciando dezenas de tragédias num desses programa sensacionalistas.
É domingo. Depois de comer um lanche gigantesco na Galeria do Rock compro uma água e saio com meu skate na mão. Centro de São Paulo. Merda, muita merda debaixo do sol. Gente, muita gente que não merece respirar e que só o faz porque lhe foi jogado um pulmão dentro do corpo sujo que lhe foi dado.
Todo o cheiro de merda humana que você possa sentir ao andar pelo Vale do Anhangabaú significa bem mais do que falta de higiene. É a materialização perfeita do que nos transformamos, ou o que sempre fomos mesmo.
O cheiro que você sente ao passar por lá é o mesmo que seu Deus sente quando vira-se para este planeta ao passear pelo Universo: sente náuseas e desvia seus passos daqui.
Caga e desvia da merda pra não se sujar com o que ELE fez.
Enquanto crianças de quatro anos estão sendo estupradas pelo avô ou pelo pai ou pelo irmão ou pela mãe ou por todos juntos em alguma casa de alguma família exemplar.
Enquanto mendigos e travestis apanham no centro da cidade.
Enquanto idosos põe as tripas para fora e cagam nas calças em corredores de hospitais públicos.
E garotas de dez ou onze anos fazem sexo anal por dinheiro.
E alguém rodeado de pessoas passa o dia mentalmente chorando de solidão.
Enquanto o mal e o desejo de suicídio sobrevoam nossas cabeças como moscas.
E eu tento chutar uma manobra pela milésima vez sem sucesso.
E enquanto você continua preocupado com quem vai ser eliminado no Big Brother, achando que essa bosta de planeta é o centro do universo. Que o pastor/padre/pai-de-santo/qualquercoisa de sua igreja, aquele grande economista espiritual, está realmente preocupado com o que você sente e não somente com quantos envelopes de dízimo ele enfiará em seu rabo gordo no fim do mês.
A indulgência contemporânea é a parte do seu cérebro que lhe foi rançada por inutilidade e consequentemente a parte do seu salário que lhe é tirada por safadeza mesmo.
Essa é a grande merda que somos...
Um povo que descobre como fazer fogo com um coração de gelo dentro do peito. Que chega à lua sem chegar perto de um consanguíneo. Que pode até um dia achar cura para o câncer, mas nunca deixará de cultivá-lo.