DERROCADA DE CLUBES E ESCOLAS
“Para cada escuela que se cierra, se abre una cárcel.”
Simón Bolívar
Em tempos que já lá se vão, Fortaleza tinha muitos clubes, ditos elegantes, na orla marítima, com mais força nas áreas nobres, compreendidas entre a Praia de Iracema e a enseada do Mucuripe.
Infelizmente tais instituições foram cedendo lugar a arranha-céus, na maioria fruto da exploração imobiliária local, mas também da fúria avassaladora de investidores estrangeiros, que apostam fortunas na construção civil.
Espanhóis, franceses, italianos, portugueses, gringos ianques, britânicos etc., principalmente eles, é a estrangeirada que literalmente toma conta dos nossos litorais, tanto na Capital quanto nas praias. Isto desde o litoral norte/oeste, extremando com o Piauí, até os limites fronteiriços com o Rio Grande do Norte, no espaço sul/leste. Vão a qualquer hotel, pousada, restaurante ou motel e vejam se a maioria não está na mão de estrangeiros.
Tomei norte/sul, aí acima, como referenciais do Estado ao conjunto dos outros territórios da Região Nordeste, ao passo que os pontos sul/leste se referem à posição geográfica de Fortaleza, a capital do Estado do Ceará.
De vulto, hoje, na nesga citada no parágrafo inicial destas linhas, restam apenas dois clubes: o Ideal e o Náutico, na famosa Praia de Meireles. Outros clubes, uma infinidade deles, foram tragados pelos mandos e desmandos do capital. Um prejuízo incalculável para o nosso lazer, já tão exíguo, e para a vida societária em geral.
Algumas (poucas) dessas casas de lazer e diversão foram removidas para a Praia do Futuro, quando ainda lá era um Saara. O fim delas foi inevitável: tragadas pelas corrosões intensas da salina ou mesmo corrosões eólicas. Poucos clubes, lá em trechos inóspitos, resistem ainda ao tempo.
O advento da abertura de casas de shows e boates logo se fez sentir. Mas não são locais apropriados às famílias, tendo crianças e adolescentes como acompanhantes. Essas casas noturnas – com raras exceções – não dispõem de piscinas nem de vida social aconchegantes. Aí, com exceções, reinam as danceterias com os atrativos à prostituição.
Ainda temos observado, com desgosto, além do fechamento de clubes sociais, a derrocada de grandes colégios e escolas de portes menores. Aqui, sobretudo neste item “escola”, o prejuízo é infinitamente incalculável.
Assim como toda mãe jamais deveria morrer, também escola nenhuma poderia nem deveria fechar as portas. Outro absurdo que acho. Vai mal das pernas a casa de educação? Então transfiram para o poder estatal, nos três níveis: Municípios, Estados e/ou União. Subsidiem, concedam empréstimos às direções ameaçadas de falência, tal como os governantes federais – lá desde o tucanato – têm feito com os bancos falidos.
Mas, não. Escolas fecham, cerram as portas e melhor para a fomentação e proliferação das drogas. Lamenta-se, mas vá lá que um clube social feche as portas; escola nenhuma, no entanto, não e não. Sinto como se minha fosse, quando vejo uma ir à bancarrota.
Outro dia, mais uma grande entidade educacional – esta nos jornais – foi à decadência para ceder lugar a um edifício de apartamentos. O colégio pertenceu, desde o nascedouro, à Campanha Nacional de Educandários Gratuitos / CNEG, que depois recebeu nova denominação, a Campanha Nacional de Educandários da Comunidade / CNEC, já com uma suave taxação para o alunado. Semeou o bem, durante décadas, mais de meio século.
Inúmeras escolas fecharam de vez, inclusive algumas monacais, dirigidas por padres ou freiras. Um absurdo inominável. É vero: fico com uma pena como se aquilo fosse de minha lavoura. Ora, mas se até mesmo escolas públicas mínguam e/ou estão a um passo da devastação interna!
Embora meio avesso às religiões, meu casal de filhos teve formação em escolas aderentes à Igreja. O Estado – falo do Estado como União – devia ter educação laica, mas entre outros balcões de comércio, jogo ainda nas escolas monacais. Ruins, ainda assim eram as menos más, lá desde os padres Manuel da Nóbrega e Anchieta, passando pelo bobo Marquês de Pombal, até os dias atuais, o estabelecimento religioso era o menos comercial e mais formativo e educativo.
Fui enganado por dois clubes, com títulos pagos, na mão e tudo, um dos quais com o status de “sócio remido”, e mesmo assim sou partidário de que clubes – clubes direitos e não dirigidos por picaretas – devem andar frondosos, festivos e com boa saúde administrativo-financeira. Escolas? Ah, nem mais dou um pio sobre o assunto.
Fort., 11/03/2012.