Doce visão
Não sei se foi sonho ou miragem-psicossomática. Somente, sei que ela estava ali, há três passos de mim. Num segundo, fiz contato com a sua mais extrema beleza. Num piscar de olhos -eu a vi- no seus dezessete, vinte e sete, trinta e sete e quarenta e sete anos; quatro idades embutida numa imagem tênue-indelicada, capaz de inquietar um coração-alheio cheio de medos. Um paradoxo hibrido, uma Deusa infiel aos princípios da divindade.
Mulheres: uma são eternas rainhas; outras apenas súditas; algumas nem sabem o que são. Entretanto todas são maravilhosas. Aquela flor perdida -à revelia- solta de um buquê não sei de quem. Imagem eterna do oito de março; era a flecha que todo coração procura, para que sem dor, com apenas pitadas de escrúpulos, sinta perfurar as entranhas de suas carnes, até alcançar o mais perene dos sentimentos: o Amor. Oh Deus! Foi um por-do-sol tal efemeridade de sua presença, de efeito tão agudos, de olhos tão lindos de cor de piscina ao dispôr do sol. Mergulhei nos quatro cantos daquele encanto, como um raio reluzente, senti a sua presença tão perto. E, de longe, sonhei com tudo que pudesse vir naquele instante mágico. Abruptamente a paixão acendeu o peito, abalando o meu equilíbrio e sorrindo do meu jeito desajeitado. Anunciou, porém, que a vida estava na minha vida. E, de repente, senti um calor arder as linhas do mapa do meu corpo, levando energia a cada fronteira antes desprotegida pela falta de emoção.
Dez minutos, foi o tempo que ficamos -um perto do outro- dava pra sentir o magnetismo que nos envolvia, ali na ignorância da nossa sapiência. Podia lhe perguntar o nome, mas no sonho não temos voz ou temos? Não temos! Pois a morte que transcende a vida no ápice do único orgasmo alcançado pelo inconsciente em complô com uma presença desconhecida em que não concorrem o segundo, nem o terceiro colocado. quem ganha é o sonho solitário de uma paixão apaixonada pelo universo do outro, que nem imagina de que ao seu lado, uma vida toda gira em torno da sua.
quando acordei daquele delírio vespertino em público, restava apenas vestígios fugazes da sua passagem silenciosa. E, um fio da sua linda imagem -lá no fundo- perdida no lume dos meus olhos.