CIDADE DE SANTA MARIA DA VITÓRIA, MINHA TERRA NATAL REVISITED
SANCTA MARIA DA VICTÓRIA
Saí de lá já faz mais de três décadas! A vontade sempre foi de retornar para ficar, mas não me foi possível. A última vez que lá estive, senti-me como se fosse um pássaro fora do ninho e de sua floresta, tamanha a mudança no meu relacionamento com Santa Maria da Vitória. Aliás, deu-me a impressão de que a Santa estava dizendo a toda hora: Tu não me pertences mais. Não posso mais te pegar nos meus braços, pois você foi embora e nunca mais voltou! Nem notícias deste. Cortou os laços comigo! Agora tu pertences a outro santo. O santo São Paulo. Foi você quem quis assim. Busque a metafísica! Busque a metalinguagem! Busque a lucidez! Se vire! Faça uma poesia! Se não és capaz de escrever versos, leia Novais, Clodomir, Ozias, Zé de Patrício ou Fernando Pessoa! Mas busque o teu caminho, longe de mim, com tua solidão,tua saudade, já que foi você quem escolheu ir embora!
Santa, sinto nas minhas narinas ainda o cheiro do frescor das suas matas. Tenho o desejo de beber a fresca água do teu Rio, o nosso Rio Corrente, imortalizado pelo seu poeta maior, Novais Neto, um filho seu que nunca a abandonou e sempre volta para casa. Sei que ele não é um filho ingrato como eu sou. Mas o céu azul é o mesmo da nossa infância! Azul e claro, às vezes com nuvens; às vezes estrelado à noite, quando era noite. Uma verdade que ficou para sempre, sem mágoa, quando a revisitei. Mãe Santa e profana quando parti de casa tu eras mais jovem. Hoje é centenária! Uma senhora centenária, decantada pelo poeta Novais Neto. Um outro filho teu ficou mais tempo longe de ti; E nem por isso tu viraste as costas para ele. Muito pelo contrário! Estendeste um tapete vermelho a ele e foi merecidamente. É um seu filho ilustre! Eleva seu nome ao mundo. Mas foi o poeta Novais Neto quem registrou o seu momento maior: O seu centenário. Este é talvez um dos irmãos mais presentes, um dos seus filhos mais presentes, daqueles que saíram de casa.
Deste–me muito! Não me tire o título de ser ainda um seu filho! Garanto que não tardarei a te ver novamente! São apenas dezessete anos! Não é tempo de mais para você, oh mãe santa! Oh mãe vitoriosa!(*” Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas....”, E enquanto tarda o abismo e o silêncio quero estar sozinho!....”) - Fernando Pessoa. Eu não quero estar sozinho e nem quero um abismo entre nós, tardando ou não. Só o tempo que é implacável e que cria a distância entre passado e presente.
Santa Maria da Vitória, a cidade que me jogou no olvidamento e que renegou-me. Quase ninguém se lembra da minha existência. Tudo bem! Hoje sou um estrangeiro para a cidade. Quando eu a visitar, serei apenas um forasteiro. Flamarion chamou-me de enciclopédia. Sinto-me uma enciclopédia de papel que perdeu espaço para a enciclopédia virtual e digitall. Mas nem na virtualidade sou lembrado. Sou como aquele velho armário, arquivo deletado,jogado para as tralhas, perdendo espaço para os arquivos virtuais. Para Santa Maria da Vitória, sou apenas João Ninguém. Apenas um número nos seus registros em cartório. Não existo. Só nas lembranças de alguns. Culpa minha e culpa do tempo. A nova geração está aí. Alguns da velha geração, já se foram. Alguns conterrâneos, idem. Quando uma irmã da terra, da nossa época, não tem na sua lembrança a minha imagem, é a prova viva de que já sou passado! Peço a Deus que, ainda possa revisitá-la! Abraçá-la carinhosamente, apesar de ter sido defenestrado do seu seio.
*E enquanto o tempo passa, aumenta a esperança e a vontade de visitar você Santa Centenária.