Os vizinhos
Moro num prédio tradicional da minha cidade, habitado por classe-média. São 11 (onze) andares e quatro (4) apartamentos por piso (andar), o que perfaz um total de 44 moradores (famílias) sendo que, metade, são pessoas de idade que ficaram viúvas(os) e adotaram o prédio como morada definitiva. Quando habitamos um prédio, é inevitável falar de vizinhos. Passam a fazer parte do nosso dia a dia, mesmo que, às vezes, queiramos esquecer que eles existem. A maioria, não incomodam e passamos por eles com um simples cumprimento de bom dia ou boa tarde, nada mais do que isso. Eles correspondem prontamente a essa senha. Existem outros que não se contentam só em cumprimentar e manifestam desejo de mostrar que estão ali, para o que der e vier. É sobre esse segundo grupo que vos venho falar. São na maioria pessoas de meia idade e alguns, um pouco mais velhos. Normalmente, vivem sozinhos. Quando nos cruzamos, a maioria das vezes no elevador do prédio, adoram falar do tempo. Perguntar ou afirmar se está frio ou calor, se vai chover, como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. Aquele estilo de conversa que, bem espremida, não dá rigorosamente em nada. Acho que é uma forma encontrada por eles de fazer o social, sem correrem grandes riscos, num assunto de conversa que não compromete ninguém, mas que se torna profundamente enfadonho cada vez que acontece. Uma verdadeira prova de fogo para mim. Mas enfim, esses não são os piores. Existem outros, mais perigosos, que vivem atentos à vida dos outros e sabem de todas as novidades. E como se isso não bastasse, levam e trazem todo o tipo de conversa ou informação. É claro que, nesse leva e trás, muitas histórias são aumentadas e deturpadas, dando aso a enredos inconcebíveis e estapafúrdios. Existe uma mulher que, quando está em casa, fica a maior parte do tempo com uma das portas abertas. Essa porta, dá acesso ao hall de entrada, aos demais apartamentos e zona dos elevadores. Acreditem se quiserem, mas quando alguém pisa essa área ou se desloca sem ser em silêncio, a mulher aparece prontamente do nada e vem ver o que se passa, como se fosse uma aranha que espreita escondida a presa incauta e que acaba de cair na sua teia. Uma verdadeira obra divina da natureza. Quanto a mim, tento me mostrar não muito distante das pessoas, mas ao mesmo tempo, não concedo muito espaço de manobra àqueles que já observo há alguns anos. Felizmente, o prédio possui uma ótima localização e estrutura de construção. As paredes são tão grossas e sólidas, que não permitem escutar os ruídos e as falas da vizinhança e isso, para mim, é uma verdadeira dádiva.