Ao Sagrado

Tiro as sandálias para pisar na areia: terra úmida é terra santa e é o ventre fecundo da Nossa Mãe. As ondas me lambem os pés, feito champagnhe borbulhante, fazendo cócegas na alma.

Tiro a roupa, fico de tanga: aqui, sou só mais um coringa em sua manga, Senhora Nossa. Espero a hora de poder enfim, fazer seu jogo: jogada perfeita, carta exatamente colocada, aonde devia estar.

A lua a refletir o brilho do sol, a água a refletir o brilho da lua, eu a refletir esse manto negro de estrelas. As ondas passam pela superfície da água, só curiosidades de formas e sons na arrebentação. Então, me arrebento, como rebento feliz, com o abraço de Mãe, Mãe d'água, Terra Mãe, num mergulho delicioso. Mas me ergo das águas, farol em recifes a beira-mar. Eu me coagulo em mim e isso dói...

Meu peito grita, brilha, arde, como deve arder toda chama, condenada a queimar sobre as águas primordiais. Eu me vi ali, Poseidon, com tridente apontado ao céu, querendo subir ao Olimpo. Ah, Dama do céu, se ainda não posso me achegar, só retire mais um véu, para que eu possa enfim lhe deixar, meu desejoso olhar, aqui, deste castelo de cartas marcadas, a beira-mar.

Enfim compreendo que tudo isso é só mais um jogo nosso. Estamos a brincar juntos, cartas e jogador. O que vale mesmo nisto tudo, é nosso amor-brinquedo, segredo de Mãe e filho, a atuar na nossa estória, a história desta terra, pois eu sou você e você sou eu...

Venha Grande Mar, vamos brincar de cair como chuva e desenhar um belo arco-íris sob o sol! Chegou a hora de trazer vida a esta terra e fecundar este chão...

Baco Diphues
Enviado por Baco Diphues em 09/03/2012
Reeditado em 09/03/2012
Código do texto: T3545052