O tempo

Maria Antônia Canavezi Scarpa

O tempo esmaece fotos, pele, olhos, corpo, quisera estar nesse momento vergando como uma haste dourada de trigo, bailando num vai e vem, sem sequer pensar na descompostura que o tempo nos oferece. Preciso tanto descansar o meu interior, levá-lo para bem longe dos ecos dos novos tempos, isolá-los de alguma forma para ouvir apenas o compasso tênue do meu coração enfraquecido.

Existem tantas urgências que sequer preciso de sirenes escandalosas anunciando a minha dor, urge que no meu caminho reine etérea a bonança fresca para os meus novos dias, a letargia se faz presente e me domina, tudo tem segmentos que ligam de alguma forma ao tempo, idade e paciência. Uma osmose no ponto certo para mim, legalmente espraiando os meus anseios.

É difícil administrar na vida nossa insustentável leveza de ser, quando nos ombros pesam fardos tão difíceis de serem removidos, quase como castigos por pequenos erros cometidos. Ninguém leva pecados sem os merecidos descontos, aqui se faz, aqui se paga (risos). Afinal tudo tem seu tempo.

Buscar a serenidade no momento certo da vida, também tem seu tempo, é um denominador comum para aplacar angústias que criamos a medida que o relógio vai escorregando suas horas e nenhuma delas tem volta. Elas nascem e morrem a cada segundo.

Brincando mas sendo sério ele vai aos poucos apertando o cerco, nos empurrando para o descanso eterno, teimosos lutamos bravamente para que isso não ocorra, não aceitamos ser efêmeros na nossa vasta fragilidade.

Se pudesse ter um medidor, queria um tempo dobrado, para poder aprender mais com as pequenas coisas que deixei passar e me foram ofertadas docemente. O tempo não tem som nem adianta apurar os ouvidos, apenas deixa claro que para tudo há uma razão e para cada coisa existe um tempo, nós é que precisamos saber fragmentá-los.

Uma curiosidade sempre tive, quanta água pode beber um passarinho, com aquele biquinho tão fino? Se ele consegue matar sua sede não importa quanto tempo leve, também posso ensaiar meus erros e suas soluções, e para isso tenho que me organizar no meu tempo certo, já que tudo que vive ao meu redor está cronometrado.

Sei que não posso parar, nem tocar no tempo, ele não é uma substância, não tem cheiro, cor ou forma. Como identificá-lo, indefinível não sei ,alguém inventou as horas e somente elas contam quantos deles já se foram e quantos ainda estão por vir. Somente sei que o meu tempo nem mais nem menos já está previamente estipulado.Daí essa angústia de querer recuperar o tempo perdido, esse que nunca mais tem volta.

Maria Antônia Canavezi Scarpa

jan/2007

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 21/01/2007
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