Este Momento
Em passos lentos, sozinha, estou caminhando. Diminuo o ritmo, até que paro.
É noite e há pouca luz. Estou em uma via de asfalto larga, que em certo ponto começa a se dividir em duas, por um canteiro bem estreito.
Não há pessoas nem carros transitando...nada.
Enquanto olho para o ponto onde meus pés estão, percebo vários vestígios de obras. Tais como latas de tinta já usadas, baldes, cimento, e tijolos. Blocos cerâmicos e de concreto. Muitos e muitos tijolos.
Não está tudo em um monte único. Há pequenos grupos desses materiais, dispostos a cada metro daquele canteiro divisório.
A essa altura, direciono meu olhar para a frente, lançando-o lentamente sobre o chão negro e bem lisinho, levemente esbranquiçado em alguns pontos, pela luz artificial das luminárias.
Percorro, como que viajando sem pressa, um grande trecho daquelas estradas, com os olhos e com a alma. Percebo que ela é longa.
Vem a certeza de que apenas eu estou ali.
Ainda dou mais alguns passos, e não sei porque ainda me preocupo em evitar a rua, preferindo estar no canteiro. Depois de algum tempo, percebo que aquilo não faz mais sentido, e ando por onde quero.
Não há angústia. Não há medo.
O silêncio é absoluto.
Dentro daquele cenário, sinto-me serena.
Naturalmente, alcanço a serenidade que busco todos os dias da minha vida, loucamente.
O passo a passo que almejo, reconhecendo em cada tijolo daqueles, uma minúscula porção de paciência conquistada com muito esforço. As peças fundamentais para que eu reconstrua mais uma etapa de vida. Os tijolos pesam. Pesam porque contêm a história de uma vida.
Ainda estou aprendendo o jeito de carregá-los. De remanejá-los. E de jogar alguns fora. E de me despedir gentilmente de alguns.. e me sentir vitoriosa por ainda conseguir trazer alguns novinhos. E de agarrar alguns com muita paixão.
Mas já aprendi que sou mais inteira, mais plena, ao abrir meu coração, com toda a humildade, pra que Deus entre... e alivie meu cansaço.