Jogo do amor

“Sorte no jogo

azar no amor

de que me serve

sorte no amor

se o amor é um jogo

e o jogo não é meu forte,

meu amor?”

Paulo Leminski

O amor é um jogo. E como todo jogo, tem ganhadores e perdedores ou empate. Às vezes empate, às vezes embate. E o final é definido pelo resultado das partidas.

Nos jogos, as equipes adversárias são compostas por um ou mais jogadores. Já o amor é um jogo entre apenas dois jogadores. Um ou outro pode vencer, e naturalmente o outro perder, mas o empate pode se dar de duas formas: ambos ganharem ou ambos perderem. Os jogadores podem também desistir no meio da partida e neste caso, ambos perdem a chance de vencer.

Se um terceiro jogador tentar entrar no jogo, pode estragar a partida... Ou então tomar o lugar de um dos dois jogadores originais e iniciar uma nova partida. Há sim também os jogos disputados a três, mas normalmente um dos jogadores não sabe disso.

No jogo do amor, os jogadores iniciam a partida sem conhecerem direito as regras do jogo. Descobrirão o que pode e o que não pode, tudo na prática, ao ousarem, ao ultrapassarem limites desconhecidos previamente. Ou seja, entram em um jogo em que não necessariamente concordam com todas as regras. A justiça é vaga, pois o que é justo para um pode ser injusto para o outro. E repito: tudo isso só se descobrirá em meio ao jogo.

Além disso, para agravar a situação, as regras podem mudar a cada partida. O que valia antes pode não valer agora. Surpresas novas surgirão a cada lance.

Rubem Alves comparou o amor a dois tipos de jogos: tênis e frescobol. Segundo ele, no tênis, “o objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto de fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sabático, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora do jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza do outro.”

Já no frescobol, “para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra – pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gosto mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...”

“Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho pra cá...” Pois, “o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. Bola vai, bola vem – cresce o amor... Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...”

É... não é nada fácil estar neste jogo do amor, muitas vezes nos sentimos a própria bola... Mas não há quem não o tenha experimentado. Por curiosidade, vontade própria ou até mesmo sem nem perceber quando já estava no meio da partida.

Como diz o ditado, “sorte no jogo, azar no amor”. Sendo ao mesmo tempo jogo e amor e como não é possível se ter simultaneamente sorte e azar, eis então a mais contundente explicação do porquê não se é possível ter sorte no amor...

(Catalão, 28/02/2012)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 08/03/2012
Reeditado em 08/03/2012
Código do texto: T3543316
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.