PREDADORES II
Uma das coisas mais irritantes que podem acontecer com alguém é ser importunado por uma mosca (Musca domestica).
Esses pequenos insetos cosmopolitas, perfeitamente adaptados, vivem nos cinco continentes sob gradiente de temperatura que vai desde os -30ºC da Sibéria/ Groelândia até os 50ºC do Saara, quer sejam secos como o Atacama ou super-úmido como o Pantanal Mato-grossense.
Quaisquer coisas que sejam vulneráveis às enzimas de sua saliva, servem de alimento.
Acredito que, como eu, quase todo já mundo parou para observar a mosca se alimentando.
Ela pousa num canto, encosta a trombinha naquilo que tem cheiro (ou não) e que pode ser um alimento, sai para outros locais e repete a operação um sem número de vezes, depois retorna, várias vezes, a cada ponto antes visitado.
A explicação é muito simples, na primeira vez ela cuspiu um pouco de saliva e retorna para saber se é comestível. Se for, ela suga o que já foi pré digerido, cospe mais um pouco e vai para o ponto seguinte.
Nisso ela passa todo tempo dos seus trinta e poucos dias de vida e, é esse movimento que torna a mosca um dos mais eficientes vetores de doenças provocadas por vírus, bactérias, protozoários, fungos, etc. que são carreados em suas patinhas ou tromba.
E ainda tem o zumbido que incomoda bastante, principalmente se é naquele momento, depois do almoço, em que estamos sob forte calor, tentando dormir um pouco.
Mas a natureza é equilibrada (quando o ser humano não mexe) e para controlar as populações das diversas espécies de moscas, existem muitos outros seres. Plantas, aves, insetos e principalmente as aranhas.
Dentre essas, destaque para a Philaeus chrysops, que por seu hábito alimentar, ganhou o sugestivo nome vulgar de Papa-moscas.
Ela faz parte do grupo de aranhas que não fazem teia e que não usam as glândulas fiandeiras para imobilizar a presa.
Como boa predadora que é, ataca a presa de frente, saltando sobre ela e inoculando o veneno neurotóxico de efeito fulminante.
O veneno é tão eficiente que a Papa-moscas pode caçar animais bem maiores do que ela.
Eu estava sentado na varanda, tentando ler o livro “O que é isso, companheiro?” de Fernando Gabeira* e uma mosca não me deixava em paz.
Esse contra tempo me deu a feliz oportunidade de assistir ao ataque dessa aranhinha marrom e cinza, que surgiu não sei de onde para pegar a mosca zumbidora.
A fim de abreviar o espetáculo, eu coloquei um pouco de açúcar no chão. A mosca foi atraída e a aranha ganhou uma belíssima refeição.
Peço desculpas aos Biólogos ortodoxos de plantão, pois bem sei que não deveria ter colocado a isca, mas o livro estava numa parte tão boa...
* FICHA CATALOGRÁFICA
Gabeira, Fernando. O que é isso, companheiro?/ Fernando Gabeira. – São Paulo: Abril Cultural, 1984 (Grandes Sucessos: Série Ouro)
83-1954 CDD – 320 – 98108
– 923.281