O povo tem a memória curta
O POVO TEM A MEMÓRIA CURTA...
OSNI de Assis e SILVA
Cidadezinha meio pacata. Como muitas, mundo afora, havia entrado na “onda da corrupção”. Aliás, corrupção deve ser uma das palavras mais antigas, desde a época anterior a Cristo, assim como aquela outra palavra famosa:
Traição!
Pois bem, era época de eleição municipal para alcaide do município. Todos trabalhavam, havia mais de um querendo o honroso cargo, cada qual utilizando seus recursos, seu charme, para atrair para seu candidato o tão esperado e queridinho voto.
Mas, naquela época os recursos estavam escassos. Cada um se virava como podia.
O alcaide que deixaria o cargo, usou recursos provenientes do bolso do povo e fez obras, aliás muitas mesmo, mas tudo na “correria”... Mal feitas, deixando que o bolso do amigo carpinteiro ficasse com um pouco do dinheiro e que seu bolso também ficasse com um bom bocado. Para as obras, destinavam o mínimo, em vez de madeira boa, usaram bambu. E, entre outra obras que ruíram, uma ponte caiu. Os muros que protegiam a cidade, também caíram. As estradas dentro da cidade que foram mal socadas ( era de barro socado) ficaram esburacadas. A essa altura o empreiteiro da socagem daquelas vielas ficou um pouco mais gordo e o alcaide também com o bolso mais cheio.
E assim, cada candidatos se virava, arrumando desse ou daquele jeito, um modo de ter dinheiro para a sua campanhazinha... dizem até que de jogo de arena (tinha jogo naquela época) apareceu ajuda.
Nenhum dos candidatos à alcaide-mor era bobo! Faziam sua campanha, mas também punham um bocadinho de “tutu” no bolso!
Um deles contou com a ajuda do príncipe. Foi a maior ajuda recebida. Como o príncipe estava devendo muito a seus soldados e as pessoas que fizeram reparos em outras aldeias do reino, pensou... pensou... e descobriu como ajudar aquele seu candidato ao cargo de alcaide-mor da cidade do “faz-de-conta”.
Bolou um jeitinho também muito esperto. Falou para um de seus ajudantes:
Vamos aumentar um pedacinho da estrada que dá acesso ao vilarejo. Vamos fazer um carpinteiro “nosso”, aqui do palácio, ir lá construir. Vamos escrever que
gastamos 800 coroas de ouro. Damos 300 coroas para o material, 100 coroas para o carpinteiro, ficamos com 100 coroas e damos para o nosso preferido o resto para ele fazer sua campanha.
- Mas, Senhor príncipe, retrucou o ajudante, assim não vai dar para o carpinteiro concluir a obra. O que fazem então?
- Muito tranqüilo, o príncipe respondeu:
- Não se preocupe, não acabaremos os reparos. O povo tem lembrança curta e logo esquecerá de tudo.