Justiça Divina
Noticia-se que hoje (13/09/2011) “representantes de vítimas de casos de abuso sexual cometidos por padres apresentaram nesta terça-feira uma denúncia ao Tribunal Penal Internacional (TPI) acusando o Papa Bento XVI e três autoridades do alto escalão do Vaticano de crimes contra a Humanidade”.
Poderíamos considerar como sensacionalista tal notícia. Ou, ainda, que ela tivesse partido de pessoas sem nenhuma religiosidade, com o objetivo de macular a credibilidade da Igreja Católica. Acontece que essa credibilidade não pode estar acima de qualquer suspeita quando há, como parece ter havido, permissão e tolerância quanto à “prática sistemática e a ocultação generalizada de estupros e crimes sexuais contra crianças”, praticados por padres e outros “religiosos”.
Na mesma matéria lemos que “o TPI já recebeu cerca de 9 mil propostas como esta desde sua criação, mas nunca abriu qualquer tipo de investigação neste tipo de pedido”. O que se configura como uma forte resistência à apuração de delitos dessa natureza. Delitos que jamais seriam admitidos por Jesus Cristo, pelo pouco ou muito que conhecemos dele, que teria o Papa como representante aqui na Terra.
Claro que essa representação vai perdendo cada vez mais o sentido, como se já não tivessem sido suficientes os abomináveis excessos cometidos pela chamada Santa Inquisição ou Santo Ofício.
Não basta ao Vaticano repudiar ou condenar, ao nível habitual da retórica, procedimentos que não teriam o menor amparo, presume-se, entre os eclesiásticos. O normal seria o seu interesse na completa apuração desses crimes e no exercício de uma fiscalização rigorosa que prevenisse ou impedisse tais atos, condenáveis pela sua natureza, como pela própria natureza da Igreja.
Mas “o TPI não tem autoridade sobre a Santa Sé”, pois estratégica ou convenientemente o Vaticano não é um dos seus membros. Daí os obstáculos para a abertura de qualquer investigação na referida corte. Donde se conclui que só podem contar com a Justiça Divina os que esperam por qualquer tipo de reparação.
Contudo, ao longo do tempo, as atitudes e ensinamentos eclesiásticos, muito deles em confronto direto com o que o filho de Deus nos ensinou, assumem aspectos cada vez mais incoerentes e fora de propósito. Por isso torna-se cabível a necessidade de que procuremos dentro de nós mesmos a religiosidade de que necessitamos. Como forma de fortalecer o arcabouço daquilo que somos e nos conduzir à uma aproximação maior da justiça, que é o que mais realiza um ser humano, aparentemente concebido para a vida em sociedade.
Rio, 14/09/2011