MÃE CORUJA
Tenho muitos prazeres na vida: minha alegria de viver; escrever; ler; meu trabalho; meus amigos; observar a natureza... Mas nada se compara a alegria estonteante de encher a boca e dizer: tenho dois tesouros em minha vida. Cada um mais valioso que o outro, o que me deixa muito orgulhosa e feliz. Esses tesouros valem muito mais que todo ouro do mundo – nem dou valor a ouro – e brilham mais que diamantes.
Refiro-me a tesouros humanos; os que coloquei no mundo. São dois maravilhosos presentes que Deus me deu. Uma com vinte e três anos e o outro com vinte e um. Até hoje, só tenho motivos para me orgulhar deles, são humanos, inteligentes, responsáveis, carinhosos, enfim, tudo de bom. Acredito que eu e o pai acertamos na educação que demos a ambos, pois não sabemos o que é ter filhos trabalhosos, desobedientes. Por isso dou graças a Deus todos os dias.
O interessante nisso tudo é que não nasci com o instinto maternal aguçado como a minha mãe. Por ela teria tido uns dez filhos, pois adorava cuidar de crianças. Entretanto, meu ideal era outro: estudar sempre até chegar a um pós doutorado. Mas em virtude dos filhos fiz faculdade e especialização, uma vez que não iria abandoná-los para viver mundo afora estudando. Isto porque sempre trabalhei em escolas e via exemplos de pais que viviam estudando, os filhos entregues nas mãos de babás, cujos comportamentos eram de muita rebeldia pela falta que sentiam dos pais. Evidentemente que não condeno ninguém, só estou expondo a minha opinião.
Por tudo isso não me arrependo de minha escolha – cuidar dos meus filhos – pois hoje percebo o quanto foi acertada. Vejo que nossa cabeça pensa algo e Deus traça nosso caminho. E como ele foi generoso comigo! Sou tão coruja que acredito babar olhando pros meus tesouros, cada degrau que eles galgam; a fortaleza que são; e como são determinados. Porém, na hora de puxar na orelha sempre puxei. Mas acredito que educação é aprendida através do exemplo. Não adianta os pais falarem para os filhos que algo é errado se eles incorrem naquele erro.
Portanto, quando nossos tesouros cometerem deslizes, não adianta olhar para os lados em busca dos motivos. Olhem para os seus próprios comportamentos, que muitas vezes passam despercebidos.