90's kids
Faço parte de uma geração saudosista, que a todo momento compartilha com os amigos coisas que amava na infância, como se aquilo fosse a coisa mais incrível do universo.
Já ouvi dizer que essa mesma geração, de crianças da década de 1990, é composta hoje por adultos que são inteligentes, porém, preguiçosos demais e por isso não atingimos todo nosso potencial na escola e agora, na faculdade e no trabalho. Que a nossa cultura é a da globalização, ou seja, uma cultura pop universal, que não importa se sou da Índia ou do Canadá, vou compreender quando alguém fala de Nintendo, Nutella ou Will Smith. Que somos a geração do imediado, do instantâneo; que não dormimos, porque passamos nossas madrugadas na internet.
Nada disso é mentira. Não pra mim. Mas esqueceram de destacar um ponto muito importante: não somos nostálgicos porque queremos. Somos assim porque somos infelizes.
Nos apoiamos uns aos outros, mesmo na distância física, porque temos a proximidade virtual. Mas somos solitários. Somos uma legião de forever alones.
Não temos bons empregos, nem amores; temos amigos virtuais, que sequer conhecemos, do outro lado do globo, que não falam nossa língua, que não sabem nossos nomes, mas conhecem nossos gostos e desejos mais profundos, porque unimos online nossa miséria.
Não somos donos de uma intelectualidade aprofundada, somos rasos. Mas quando formos pais, saberemos checar o histórico do navegador dos nossos filhos.
Dizemos o quão bom era o Cartoon Network, mas não conseguimos falar sobre nossos problemas.
Fazemos piada, veneramos Chuck Norris e Jim Carrey, mas isso não passa de uma máscara para esconder nosso sofrimento; porque no fundo, somos infelizes. Nosso humor sarcástico e irônico nada mais é que uma forma de mascarar com um Trollface toda a nossa miséria.
Não queremos conselhos, já somos grandinhos o suficiente para entender como funciona o mundo. E não gostamos dele.
Não gostamos de uma sociedade hipócrita, que sempre nos impôs costumes e morais que não ligamos. Tradições que não nos importam. E regras que queremos quebrar.
Temos nossos próprios costumes e regras (jamais repostarás, e regra 34, para ilustrar o que digo) e nos acostumamos a esconder por trás de um sorriso e uma musiquinha alegre nossos medos e frustrações, porque fazemos parte do novo mundo que tenta, inutilmente, tomar conta do futuro.
O velho mundo não nos convém, não nos cabe mais. O mundo analógico, do átomo.
Acho que porque temos preguiça, somos tão ineficientes em colocar em prática aquele mundo ideal cheio de mágica e fantasia que gostaríamos que nosso dia a dia fosse composto. Mas ele é feito dos sonhos de nossos pais.
E se você não acredita em mim, acredite nesse cara:
"Eu vejo aqui as pessoas mais fortes e inteligentes. Vejo todo esse potencial desperdiçado. A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas. Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas inúteis. Somos uma geração sem peso na história. Sem propósito ou lugar. Nós não temos uma Guerra Mundial. Nós não temos uma Grande Depressão. Nossa Guerra é a espiritual. Nossa Depressão, são nossas vidas. Fomos criados através da tv para acreditar que um dia seriamos milionários, estrelas do cinema ou astros do rock. Mas não somos. Aos poucos tomamos consciência do fato. E estamos muito, muito putos. Você não é o seu emprego. Nem quanto ganha ou quanto dinheiro tem no banco. Nem o carro que dirige. Nem o que tem dentro da sua carteira. Nem a porra do uniforme que veste. Você é a merda ambulante do mundo que faz tudo pra chamar a atenção. Nós não somos especiais. Nós não somos uma beleza única. Nós somos da mesma matéria orgânica podre, como todo mundo." - Tyler Durden