PARA AMAR

 

 

Costumam dizer que é preciso ‘amar a si mesmo’ para poder amar os outros. Não consigo engolir isto. Gostar da gente mesmo me parece natural, creio que todo mundo goste. Podemos não estar satisfeitos com nossa cara, com o corpo, com os dedos do pé. Podemos achar feios nossos joelhos, reclamar do joanete. Gostaríamos de ser mais bonitos, mais altos. Mais magros ou mais gordos. Ter a pele bronzeada ou mais clara, cabelos lisos e sedosos, ou encaracolados. Pernas bem feitas, cintura fina, nada de barriga. Pneuzinhos, então... Dentes brancos e alinhados, olhos verdes ou azuis, por que não?... Poucos são aqueles que mesmo lindos para os outros não reclamam de seus defeitos. Principalmente os adolescentes. Lembro que eu ficava me examinando no espelho. Achava um olho diferente do outro, os dentes tortos, a pele cheia de espinhas... Ia reclamar com meus pais. E eles, rindo, faziam piada: reclamações só na gerência!

 

Penso que melhor seria dizer ‘gostar de si mesmo’, no sentido de estar satisfeito consigo, sentir-se bem. Para isto temos que gerenciar nossos ‘defeitos’, procurar sempre melhorar, o que resulta em amadurecimento. É claro que se largarmos o corpo, assim como a mente, nos sentiremos mal. O mais importante, porém, é cuidar daquilo que está em nosso interior, ou seja, ter valores morais, saber controlar o temperamento, ter bons sentimentos.

 

‘Amar a si mesmo’ me dá impressão de exagero, algo que pode beirar a egolatria. Um ególatra jamais vai se importar com os outros. Pode ser a pior pessoa do mundo, mas ‘se acha’. Imagina-se melhor do que ninguém, o verdadeiro rei da cocada preta. Será que ele está mais apto a amar do que nós, pobres mortais?