Paixão Reprimida
Desde que o homem passou a viver em comunidade, sua preocupação é guardar, prender ou conter. Seja água, animais, alimentos ou qualquer outro objeto.
Para as manifestações naturais também houve tentativas, ora através de comunicação com os espíritos ou com oferendas. Conforme surgiam as necessidades, novos deuses foram sendo cultuados, cada qual para atender uma determinada causa.
Estas eram as formas primárias de suprir as necessidades humanas, oriundas de causas externas, que com o passar do tempo foram substituídas gradativamente conforme os avanços intelectuais e tecnológicos.
As causas internas foram sendo “domesticadas” conforme o homem evoluía social e intelectualmente. Logo, os filósofos foram os primeiros a chamar atenção para as causas ligadas os sentimentos humanos.
As regras sociais tiveram papel fundamental para disciplinar e conter os instintos mais rudimentares, posteriormente auxiliados pelo desenvolvimento da religiosidade e das ciências humanas. Desde então, o homem vem lutando para melhor dominar as causas internas.
As questões sentimentais ainda são os maiores desafios na caminhada humana, enquanto as físicas e tecnológicas, tiveram grandes avanços. Basta olhar para as tecnologias desenvolvidas na área espacial, especialmente nos aspectos de manter, conter, guardar e conservar.
Seu José com seu precário conhecimento acadêmico, mas profundo conhecedor da vida, sempre dizia: “fogo moro acima e enchente moro abaixo, não há quem segure, mas não a nada que segure uma paixão, seja qual for à direção”.
Para conter uma paixão não há tecnologia, treinamento ou psicologia que seja eficiente. Falo de paixão verdadeira, aquela que liberta e expande nosso espírito. Essa no máximo pode ser disfarçada, porém jamais contida.
Reprimir a paixão machuca, e, diante da impossibilidade de manifestar um sentimento tão grandioso se sofre ainda mais.
Neste processo os cinco sentidos assumem um papel no mínimo intrigante. Quando uma paixão ou um amor surge após os sentidos terem se envolvidos fisicamente, é facilmente compreensível que seja difícil administrá-la, pois é sabido que os sentidos são portas de acesso ao externo. Mas fica difícil de entender o papel dos sentidos quando, por exemplo; o tato não pode sentir aquela pele macia, o olfato àquele aroma que vicia, a audição àquelas aveludadas palavras, a visão àquela majestosa face e o paladar aquele doce sabor dos lábios. No entanto, é o desejo de saciar essa fome dos sentidos que passam a ser comandados pelo coração que torna a paixão ainda mais intensa.
A paixão sem esse contato é ainda mais incompreensível, por suas razões serem totalmente abstratas. Apesar de que ela não precise de razões, pois se precisasse, não seria paixão. Então, porque é difícil conte-la? Ou seria este desejo dos sentidos a razão da paixão?
Explicar as razões da paixão, do amor ou de qualquer outro sentimento humano é objeto de dedicação histórica de filósofos e outros especialistas, o que não me qualifica em fazer recomendações.
Contudo, essa capacidade de apaixonar-se e amar é o que nos diferencia das demais criaturas. Porém, quando não vivida ou vivida exageradamente, tem como efeito colateral essa imensa dor.
Assim, aos que estão tentando se libertar dessa dor, a minha solidariedade e sugestão, é de que a libertem.
O consolo é que essa dor transforma-se no caminho que conduz ao bem estar de um mundo novo.