"UM CRIME QUASE PERFEITO"
Ao lado de casa morava um casal que em minha opinião, era meio esquisito; não por ela ser uns trinta anos mais nova que ele, ser alta, magra, cabelos negros e longos o tipo de mulher gostosona; e ele já um cinquentão baixinho, meio calvo, e os poucos cabelos que tinha, eram pintados de uma cor marron-avermelhada que o deixava ridículo.
Não sei por qual razão sempre que os via chegar ou sair ficava incomodado, pois era como uma obra mal acabada, um instrumento desafinado no meio de uma orquestra sinfônica, uma poesia sem rima, um céu sem estrelas, uma noite sem luar, sei lá.
Lembro-me que às vezes acordava no meio da noite e ouvia gritos abafados, soluços, barulho de objetos quebrando e ficava com vontade de ir lá e fazer alguma coisa, mas minha mãe sempre dizia “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, ”todo casal é assim, briga e faz as pazes todos os dias” e coisas desse tipo.
De tanto ouvir esses barulhos quase todas as noites, fui me acostumando a eles e já não me acordava mais, mas também comecei a sentir falta da mulher, pois notei que ele saia e chegava sozinho em casa; cheguei mesmo a comentar com alguns colegas e com minha mãe e ela disse que talvez ela tivesse tirado umas férias e coisa e tal.
Até que depois de uns quinze dias mais ou menos, comecei a ouvir uns barulhos novamente, só que não eram os mesmos de antes; eram barulhos de serra – elétrica cortando alguma coisa e minha imaginação de criança começou a funcionar.
Comecei a imaginar que ele a tinha matado e congelado o corpo por uns dias, e agora a estava cortando em pedacinhos e colocando seus pedaços no lixo, pois sempre ficava escorrendo uma salmoura e o cheiro que vinha de sua lixeira era insuportável.
Nunca mais vi aquela mulher que mexia com meu imaginário de criança; após um tempo ele se mudou e até hoje não sei se eu estava certo ou errado, Só sei que se estiver certo, aquele homem cometeu um crime quase perfeito.