FALE BAIXO AO CELULAR

Outro dia eu estava calmamente sentado a mesa na Praça da Alimentação do shopping, degustando uma empadinha, hábito do qual eu gosto muito e sou contumaz, quando uma corpulenta senhora balzaquiana, lançou mão do seu celular e começou a falar com seu filho. Ela falava tão alto que tive a nítida impressão de que o aparelho celular era perfeitamente dispensável; dado aos berros que emitia certamente o seu filho a ouviria de qualquer forma, com ou sem o celular. A vociferação era tamanha que incomodava a todos que circundavam a matrona.

Aos poucos os frequentadores que estavam por ali, foram se calando, uma vez que as suas falas foram sendo sobrepujadas pelos berros da balzaca.

Que coisa detestável! Desagradável!

Acho que as operadoras de celular deveriam disponibilizar um curso intensivo, como os de pré-vestibular, para ensinar os usuários e compradores dos aparelhinhos, como falar e ou usar. É lógico que nem todos os usuários precisam, contudo, uma boa parte necessita.

Há quem tire proveito do pequeno aparelho como a modelo paraguaia Larissa Riquelme; ela ganhou destaque na imprensa por ocasião da Copa do Mundo. Arrumou um lugar de destaque na arquibancada, e muito provocante a linda modelo deixou a mostra um decote gigante e aninhou seu celular entre os seios avantajados. A mídia internacional adorou a ideia e Larissa Riquelme se revelou como “torcedora”; tudo por causa do celular. A sua foto com o celular acomodado entre seus belos seios correu o mundo. A modelo esteve nas capas de várias revistas masculinas, desfilou em Escolas de Samba, apareceu em programas de televisão, fez publicidade para a Nokia, enfim, virou celebridade; tudo devido ao aparelho celular indiscreto.

Por outro lado, tenho notado, aliás, já venho observando há muito tempo que algumas pessoas têm mania de falar alto ao celular em lugares públicos. Estão lá, quietas, reservadas, daí recebem uma ligação e viram locutores de carro de som. Assim somos obrigados, mesmo sem interesse, a escutar as suas particularidades familiares e profissionais.

O uso do telefone celular em locais públicos precisa ser visto não apenas como regra de etiqueta, mas, também de respeito aos outros, dependendo do lugar em que se está.

Padre Fábio de Melo, dublê de padre e cantor, revelou em uma entrevista que celebrava um casamento quando o telefone de um dos padrinhos tocou; imediatamente ele parou a celebração e informou ao portador do celular: “Se for para mim diga estou ocupado celebrando um casamento”.Uma repreensão com muito bom humor.

Sabemos que o celular facilita e amplia as relações e essas facilidades se estendem as relações de trabalho, minimizam as preocupações com a família, uma vez que é possível falar a longa distância e em qualquer lugar, por isso, cada vez mais se vê a importância na utilização desses serviços, mas, mesmo assim, mesmo se tratando de assuntos tão pertinentes, nem sempre o lugar em que se está é o lugar conveniente para uma conversa ao celular.

Concordo que não vivemos mais sem o telefone celular por mais irritante que seja; via de regra incomoda muito, é uma praga irritante, todavia, tornou-se indispensável.

A minha filha Brenda, adolescente, usa o celular com fones de ouvidos para ouvir músicas. Volta e meia a mãe lhe arranca rudemente tais apetrechos para que ouça ou responda alguma pergunta. Perguntei-lhe se o aparelho não era para comunicar-se com as colegas e ela respondeu-me sorridente, que, para isso usava a internet. Tempos modernos!

Para grande parte dos profissionais o celular é um alivio, já que de qualquer ponto resolve-se o mais difícil dos problemas. Já para os aposentados torna-se uma espécie de localizador, não para o seu usuário, mas, para os familiares que querem saber onde estão. Torna-se um rastreador.

É instigante, ridículo e cômico e por vezes hilário ver os desesperados usuários, ora falando em altíssimo tom, ora movimentando seus polegares sobre as teclas minúsculas de seus aparelhos; por vezes ignorando o incômodo que causam as pessoas que os circundam como se fosse a coisa mais normal do mundo..