Esses meus
                            cabelos brancos


        1. Há muitas décadas, festejando o meu aniversário, recitei este versinho de Casimiro de Abreu: - "Se eu tenho de morrer na flor dos anos,/ Meu Deus! não seja já;/ Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,/ Cantar o sabiá."
          
2. Deus, compreensivo e generoso, não me levou "na flor dos anos". Permitindo-me, assim, continuar ouvindo, nos fins de tade, o canto dos sabiás e de outros pássaros.
          
3. Com estes meus cabelos brancos continuo caminhando sem a firmeza de um jovem, mas suportando, com elegância e resignação, o peso de minhas décadas, galhardamente vividas.
         
4. E por falar em cabelos brancos, costumo dizer que se existe uma coisa que me deixa deveras envaidecido é ver minha cabeça encanecida.
            5. Não enxergo nos meus "cabelos cor de prata" somente a marca indelével da idade avançada, com suas naturais  consequências.
     Com eles, pelo menos até esta data, 05 de março de 2012, dia do meu aniversário, convivo muitíssimo bem; sem ter do que me queixar.
           
6. Ah, a "flor dos anos" ! No seminário, aprendi uma modinha alemã que, traduzida, diz o seguinte: "Ó tempo lindo da mocidade/ Por que - ó diz! - és curto assim./ Não vá embora, tem caridade/ Não vá embora tem dó de mim."
           
7. Andei pedindo que o "tempo lindo da mocidade" nunca se fosse. Mas ele se foi... inexorável...  Não podendo vivê-lo outra vez,  resta-me curtir, com desenvoltura, dignidade, e desmensurado prazer, o tempo lindo dos meus cabelos brancos.
 

      
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 04/03/2012
Reeditado em 23/09/2019
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