UMA VIDA SOFRIDA
“Não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos para que o desejássemos. Era desprezado, e rejeitado dos homens” (ISAÍAS-52).
Como se vê, as aparências se enganam! Mesmo Jesus, aos olhos do mundo não se mostrou belo exteriormente. Hoje, aproveito esse espaço para falar de uma pessoa muito querida que deixou saudades depois que partiu. Não era fisicamente formoso, mas esbanjava desprendimento e muito sofreu nessa vida.
Funcionário público por concurso, cujo trabalho, o levou a diversas cidades. Em uma dessas andanças, conheceu aquela que se tornou sua esposa, pena que por pouco tempo. Pois a morte prematura pós-parto a levou, deixando uma criança recém nascida. Por conta disso, forte depressão abateu-se sobre ele. Afinal, não se conformava com a situação de ter perdido precocemente aquela que tanto amava. Seu trabalho itinerante levou a outra cidade, sendo obrigado a separar da filhinha amada, que ficou morando com a sogra e as irmãs da falecida. Posteriormente, tentou sem sucesso, casar-se com uma de suas cunhadas. Seria uma união de conveniência.
Passados dez anos do triste episódio, casou-se novamente, tendo mais dois filhos, quis levar para seu novo lar, a filha do primeiro casamento. infelizmente, isso não foi possível. Anos depois, um acidente automobilístico interrompeu precocemente a vida da filha do primeiro casamento, fatidicamente com a mesma idade de sua mãe, quando morreu. Ele quando soube da triste notícia, não se desesperou. Entretanto, por certo, dentro de seu coração sentiu uma agonia muito grande, tendo em vista a terrível perda semelhante a primeira, contudo, bem mais dolorosa.
Por outro lado, sua filha tinha recebido em vida, grande herança deixada pelos seus avós maternos. Legalmente, era ele o herdeiro natural, tendo em vista o trágico ocorrido. No entanto, destinou parte dos bens para uma prima, a qual, se encontrava no carro na hora do trágico acidente, tendo ficado com graves sequelas. Posteriormente, doou uma casa para a babá que tomou conta de sua filha quando criança. O restante do dinheiro foi para o irmão mais pobre de sua primeira mulher. Ele continuou a viver com magra aposentadoria do serviço público, até o fim de seus dias.
Essa pessoa era meu tio querido, todas as férias ele fazia questão de trazer presentes para os sobrinhos. Quando meu pai morreu, foi o braço amigo que encontrei naqueles momentos difíceis. Inclusive, levou-me para sua casa, naquela época, viúvo do primeiro casamento, vivia sozinho. Passei 15 dias com ele, sabiamente sob me confortar. Enfim, era um homem inteligente, paciente e bondoso, que soube lidar com a vida, apesar das dificuldades vivenciadas.