Amigo que não se esquece

Vez ou outra encontro "pérolas" em gavetas ou quaisquer outros lugares por onde passo. Desta vez foi um pouco diferente. Esta a encontrei no meio de inúmeros "lixos" dentro de um envelope na casa da minha mãe. Foi "tocada" com carinho, acompanhada de uma lágrima que rolou imediatamente dos meus olhos. Foi recomposta por fita adesiva em inúmeros cortes do papel já totalmente amarelado e será emoldurada para que o tempo não a desgaste mais. Trata-se de uma crônica escrita pelo Prof. Hugo Muxfeldt, em homenagem ao meu pai, falecido em 1980, para o Jornal Correio do Povo (RGS). Grande amigo da família e uma das maiores autoridades da apicultura na época, retratou com sabedoria um pouco do mel – sutil, inteligente e sem precedentes que existia no homem mais importante da minha vida.

Amigo que não se esquece

(Jornal Correio do Povo - edição de 19/03/1982)

Não era apicultor. Numa manhã de domingo, com sol claro e sem vento levou-me para um lugar denominado Monjolo, 1o. distrito de Santo Antônio da Patrulha. Lindo? Não! Lindíssimo!!! É o paraíso para pessoas e abelhas, a terra onde jorra mel e leite. Da Bíblia, a terra prometida.

Isto foi em 1971 quando escreví neste Suplemento o seguinte: "Passamos um domingo em Monjolo, onde cerros e vales, planícies e enconstas estão cobertos o ano inteiro com plantas nativas e cultivadas. Plantas que se sobrem de flores todo ano na primavera, verão, outono e inverno. As abelhas estão lá. Há 200 anos as "Oropa" moram lá, nos matos, nas grotas, e o mel escorre pelos penhascos, quando no verão o sol derrete os favos". (Suplemento Rural de 29/01/71).

É assim o município histórico, de chão abençoado de Santo Antônio da Patrulha. Foi e sempre será o campo ideal para a produção de mel e criação racional de abelhas.

Mas, vamos ao amigo inesquecível. Alegre e folgazão, sabia contar histórias de "meleiros" de antanho, que colhiam latas de mel e arrobas de cera, vendidos nas cidades de Gravataí e Porto Alegre. Exercia as funções de caixeiro-viajante da firma Chaves & Almeida e durante 18 anos viajou pelo Litoral, até Araranguá, Santa Catarina. Nestes longos anos de comércio e convívio com seus colegas, granjeou fama de contador de histórias, proezas e bravatas, comuns entre os caixeiros viajantes. O meu amigo levava vantagem sobre os demais, pois exibia, cheio de orgulho, um documento raro. Muitos de seus colegas pagariam de bom grado uma pequena fortuna para obter um documento semelhante. O que seria? Pois aí vai na íntegra: "Comitê Gaúcho das Esposas e Sogras Compreensíveis. Carteira de Identidade do BOM MARIDO. Autorização. Pela presente autorizo meu marido a chegar tarde em casa todos os sábados e domingos e a frequentar boates, cinemas, teatros e passear com os brotinhos e etc, etc, etc, sob minha inteira responsabilidade". Seguia a assinatura da esposa e visto da sogra.

Ao amigo inesquecível, João Knevitz da Rocha, que faleceu em Santo Antônio da Patrulha há alguns anos, minha homenagem. Cumpri a promessa. Quem quiser olhar o documento pode vir à Escola Santa Rita. À Dona Nita e à veneranda senhora Dona Rosalina, os respeitos e cumprimentos do "Tio Hugo".

Escola Santa Rita - Altos do Mercado Público - Sala 69

Rosalva
Enviado por Rosalva em 04/03/2012
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