Sopro de Vida: a força de Clarice Lispector após a sua morte...
Para Clarice Lispector as palavras haviam se esgotado como em um Sopro de Vida", ela acompanha o seu fracasso da linguagem, de não poder dizer o que esvai do seu "Eu",por não coabitar mais em seu interior a transgressão que ela tão bem manipula nas palavras:
"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos."
E Clarice nos surpreende mesmo depois de morta ao nos dar de presente o seu último romance "Sopro de Vida" em que nos dá esta incompletude de não conseguir manipular toda a compreensão da palavra!
"Quando acabardes este livro chorai por mim um aleluia. Quando fechardes as últimas páginas deste malogrado e afoito e brincalhão livro de vida então esquecei-me. Que Deus vos abençoe então e este livro acaba bem. Para enfim eu ter repouso. Que a paz esteja entre nós, entre vós e entre mim. Estou caindo no discurso? que me perdoem os fiéis do templo: eu escrevo e assim me livro de mim e posso então descansar."
Clarice Lispector, um dos maiores nomes da literatura brasileira de todos os tempos, nasceu em 1920, numa aldeia da Ucrânia chamada Tchetchelnik, e chegou ao Brasil quando tinha apenas dois meses de idade. Em 1944, Clarice Lispector consegue publicar seu primeiro romance “Perto do coração selvagem” - o livro havia sido recusado um ano antes pela Editora José Olympio -, dando inicio, desse modo, à sua carreira de romancista.
"A língua está pois aquém da literatura. O estilo está quase além: imagens, um fluir, um léxico nascem do corpo e do passado do escritor e se tornam, pouco a pouco, os automatismos mesmos de sua arte. Assim, sob o nome de estilo, forma-se uma linguagem autárquica que mergulha apenas na mitologia pessoal e secreta do autor, nessa hipofísica da palavra e das coisas, onde se instalam uma vez por todas os grandes temas verbais de sua existência. Seja qual for seu refinamento, o estilo tem sempre algo de bruto: ele é uma forma sem destino, é o produto de um surto, não de uma intenção, é como uma dimensão vertical e solitária do pensamento. Suas referências estão no nível de uma biologia ou de um passado, não de uma história: ele é a “coisa” do escritor, seu esplendor e sua prisão, é a sua solidão”. (Barthes, 2004: 10-11)
foto do meu perfil de Clarice Lispector tirado do google