ANALISTA DE SÁBADOS CINZENTOS E SECOS

As chuvas que fazem a primavera sorrir, e molham o nosso alto verão, não podem ir embora já para que se possa apagar o incêndio da ignorância e da burrice que reina entre grande parte da humanidade.

E lembre-se que duas paginas A4, não são tão difíceis de se ler, pra quem derruba 200 páginas de um livro de Paulo Coelho. Portanto, não me chamem de prolixo.Rssss

E ontem cedo, pus o pé no chão, retirei uma toalha molhada estirada sobre uma banqueta de plástico no meu quarto, desliguei o umidificador e a secura na boca continuou com a taxa de umidade relativa do ar, variando entre 10 a 17%.

Liguei a TV e um pastor fazia o terrorismo de sempre e o canal 40 lembrava os dias de sofrimento do grande Sócrates que depois de internado alguns dias na UTI de um hospital qualquer em SP foi-se embora e não volta mais.

Dirigi-me ao lavabo e ao olhar-me no espelho com o cabelo desarrumado e assustado com a secura, me senti com aquele rosto feio e horrivel do Arnaldo Jabor quando aparece da tela da globo, fazendo suas bruxarias em forma de jornalismo.

Em seguida, num acesso de solidariedade nos chamados serviços domésticos, fervi a água do café, descasquei um abacaxi e fiz um suco com melão e misturei um uma colher de chá de guaraná em pó da tribo Maué, enviada por um amigo meu de Ponte Nova e fiz meu desjejum.

E assim, aos poucos, o grampo saiu da garganta e a saliva retornou, como retornam as chuvas de Belém todos os dias. Minhas cápsulas de óleo de linhaça estão provisoriamente descartadas mas acho que vou tomar mais uma carga semestral de Ginseng, receita de Laene Mucci minha poetisa e conterrânea. Brinquei com o meu "louro" escravo de uma gaiola e dei-lhe restos de banana e melão, e ele agradeceu-me dando "gargalhadas" e cantando sempre pela manhã, aquela musiquinha enjoada que a minha irmã Zelia ensinou pra ele: "Eu era um bêbado, e vivia drogado", um saco, sem falar naquela do "fui no Tororó" e fica pior ainda quando ele grita "animal". Incomoda até o vizinho que disfarça a indignação no sorriso amarelo.

Sai um pouco na área externa e a visão triste de constatar que a cidade cresce cada vez mais na vertical. Especulação imobiliária consentida realçando a traição daqueles nos quais votei e depositei minha confiança de um futuro melhor para os meus filhos e meus netos. Que nada, eles continuam a legislar em causa própria e fazem acordos sujos e levantam a poeira, em nome de uma política habitacional de emoção, corrupta, criando currais eleitorais em forma de arranha-céus, onde todos se aglomeram em busca de segurança, protegendo-se da ralé que não cabe toda dentro dos presídios e assim a minha privacidade foi embora.

O dólar e o Euro fazem a fuzaca na America do Norte e no velho continente que é invadido por uma onda de auto-flagelo incendiário dos tempos do colonialismo. Direita, esquerda – Esquerda, direita, e o mundo não sabe que direção tomar, enquanto a China mantém de pé suas muralhas, rindo da queda do muro de Berlim e assistindo a construção das trincheiras ao longo da fronteira do México e mostra ao mundo inteiro que disciplina em forma de comunismo ainda faz sucesso.

E Sem falar ainda nos muros simbólicos que fazem os cinturões para proteger as elites que ficaram reféns dos morros cariocas.

Enquanto isso, os artistas milionários da bola, retornam da Europa de cabeça baixa, pernas enfaixadas e recebem o prêmio de consolação dos últimos dias, com contratos milionários de publicidade em TV e com direito a todas as loiras disponíveis nos times de urubus e de manos. E se um dia Moisés abriu o mar vermelho para que os Judeus fugissem da escravidão, hoje libertos, eles isolam toda Palestina e despejam todo seu ódio milenar em cima de inocentes.

Enquanto a Europa grita: Europa para os Europeus, eles usam a truculência em nome de um Deus que teria lhes dado de presente a terra prometida.

No Facebook, pequenos e sinceros desabafos, muitas inutilidades e excessos de vaidades, onde a juventude suspira desilusões em monossilábicos estranhos e incompreensíveis, exacerbando a vaidade e realçando o alter-ego. Um exército de solitários em busca de comunicação, enquanto Chico Buarque lança seu grito de desprezo pelas mulheres com orifício o que pode deixar muita gente em sintonia com a teimosia do Papa em adiar a data da morte do celibato. Sinal de que o mundo ainda não tem jeito.

Não acredito sinceramente que o meu sábado estivesse sendo tão ruim, pois já tive sábados piores, e talvez tenha sido áspero com o minha cadelinha de estimação (sua excelencia a Meg) , porque tentei lhe dar uma ração mais barata. Ela protestou no ato e fez aquilo que não devia bem no meio do corredor, ainda bem que sem carpete. Teve topete de fazê-lo e ainda latiu pra mim como se estivesse reclamando. Vou portanto comprar a ração da elite e abrir a janela do meu carro para receber todos os panfletos de propaganda dos meninos que não vivem da bolsa família para mostrar a Meg que eu divido minha atenção, sem preconceitos.

Talvez um dia, eu crie coragem para doar R$147,00 a uma dessas pobres crianças de rua, (custo de um mes de ração) ou uma velhinha num desses asilos que a gente vai uma vez por ano e dizer à Meg que vai ter que roer um osso grande e duro de boi, porque fez xixi no carpete do meu carro.

Sábados assim, são interessantes para um choque de espelho, uma reflexão, rever conceitos sobre existencialismo, sexualidade e até mesmo sobre o nosso comportamento com os nossos semelhantes que não usam coleiras visíveis.

É possível que eu esteja mesmo é querendo tomar coragem para conseguir ficar pelo menos 15 minutos sobre a minha esteira elétrica, e assim pensando nisso, o máximo que consigo é movimentar os dedos digitando besteiras, o que vai me causar lesões por esforço repetitivo. O esforço repetitivo da consciência social nos leva a ter alguns traumas também. Não sei como um político corrupto se sente, roubando a merenda escolar de centenas de crianças ou montando tramóias com super-faturamentos. Mas deixa isso prá lá.

Esse negócio de pregar paz e amor em finais de semana, levantar o astral, falar de otimismo somente. é muito bom, mas temos que ser realistas. Qualquer que seja o lugar, pelo que sei, você já não pode caminhar tranquilamente com um simples celular, pois ele sem duvida tornou-se objeto de cobiça alheia, mostrando que a vida de todos nós é um constante inferno e que a felicidade não é mais como antigamente, ou pelo menos duradoura o suficiente para nos encantarmos e dançarmos e pularmos de alegria.

Vivemos hoje momentos de apreensão de insegurança e a todo momento temos que ter habilidade para não cair nas garras do vizinho, do amigo, do fornecedor, da loja que embute nos preços juros extorsivos, do bombeiro eletricista, que a todo momento quer levar o nosso suado dinheirinho.

Portanto, daqui a pouco, um domingo provavelmente ensolarado, você que é religioso, assista a missa ou a um culto evangélico, ou se preferir comece a preparar um churrasco com os amigos, ou deite-se ao longo do deck de sua piscina e leia um Paulo Coelho, para um emburrecimento acelerado Rsss..

Lembrando ainda que cada um de nós tem uma maneira peculiar de passar o tempo, extravasar sentimentos. Alguns saem pelo mundo, respirando a poeira das montanhas, somando liberdades mil, apreciando o verde sobre uma "byke", como o meu amigo Rodolfo (que já se foi também), que esbanjava palavras, esbanjava sinceridade, esbanjava verdades e tinha uma segurança nos pensamentos, além da segurança adquirida ao longo dos anos, onde a experiência de vida e sofrimentos e alegrias forma as principais matérias primas de sua vitalidade. Ele não sabia, mas sempre me inspirei em sua coragem para escrever alguma coisa e jamais me esquecerei do amigo que sempre esteve ao meu lado.

Ele saia por ai, com o pulmão inflado, gritando por liberdade, eu ficava, como fico ainda, aqui sentado nas minhas preferências, nas minhas rotinas, nos meus jeitos livres de pensar e de escrever, sem dogmas, sem sonhos exagerados. Ele não se importava com a eficiência e força daqueles que se diziam seus inimigos. E foi embora sem dizer Adeus.

E viva os embalos das madrugadas de meus sabados, e viva a vida e viva as certezas, pois somente delas é que me alimento de esperanças.

E lembre-se do lema que me norteia: Ajoelhou, dançou.

PS.- Lamento continuar usando aqui as antigas regras gramaticais. Com as antigas eu já cometo meus erros e se eu for usar as novas regras com as quais, muitas delas, não concordo pior vai ficar. Portanto, por favor relevem.

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 04/03/2012
Reeditado em 04/03/2012
Código do texto: T3533808
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