QUERO SER MARILYN MONROE!
A minha primeira lembrança a respeito de Marilyn Monroe. Nada tem haver com os seus filmes, fotos, etc.
A primeira imagem que vem a minha mente. É de uma penteadeira muito antiga cheirando a óleo de peroba. Toalhinhas brancas e engomadas, batons; pó facial; escova de cabelos; um porta-jóias com uma bailarina já encardida e dois porta-retratos.
Nada disso chamava mais a atenção da menina de olhos grande e curiosos, do que frascos de perfumes. Um era bem antigo com esborrifa dor, um pequeno mais parecia uma jóia, outro um frasco quadradinho com um liquido amarelo, tampinha achatada.
A menina ainda não sabia ler, no jardim de infância os primeiros contatos com as letras e números. Dos lábios vermelhinhos da criança travessa, saiu o som: 5
Nisso ouve-se passos no corredor com piso de assoalho e forte cheiro de sinteco. A menina assustada ficou paralisada segurando entre as mãos pequenas o frasco de perfume.
Uma voz suave com cabelos grisalhos, olhos de um azul profundo ecoa, pelo quarto espaçoso de moveis antigos.
--- Meu bem! O que fazes aí? O que tens nas mãos?
--- A Menina esconde as mãozinhas para trás.
--- Nada vovó.
A senhora magrinha, segura os bracinhos da peralta. Vê o frasco de perfume e sorri.
---- Não pode mexer em coisas alheias, sem pedir antes mocinha. É só pedir a vovó mostra pra ti. Gostou do perfume?
---- Não sei. Nº5. Sei que esse é nº5.
---- Muito bom isso mesmo. Está escrito Chanel nº5.
A mão fina, da senhora abriu delicadamente o perfume e passou no pulso da menina.
A menina inocente. Soltou a pérola: Tem cheiro de coisa velha!
A senhora sorri e diz: Tem o cheiro da vovó.
Foi o primeiro contato com o perfume preferido Marilyn a primeira vez que senti minhas bochechas queimarem de vergonha.
Experimentei novamente o cheiro da minha amada avó. Olhei para aqueles olhos da cor do céu em dias de sol. E tudo se transformou. Quanta falta já fez esse aroma na minha vida.
----É bom vovó.
---Sim esse foi o perfume de Marilyn Monroe.
Não tinha a menor idéia de quem foi essa senhora com o mesmo cheiro da minha avó.
Anos mais tarde descobri e a partir daí: Eu quero ser Marilyn Monroe.
Mesmo com as suas roupas estranhas, a maquiagem carregada, cabelos descoloridos além da conta. Aquela estrela chamava a atenção da adolescente sonhadora.
Assistindo aos seus filmes procurava imitar os seus gestos frente ao espelho.
A sua voz suave e quase infantil, como se movia ao andar, o seu olhar, o biquinho para fotos.
Faço biquinho até hoje em fotos por causa minha musa.
O tempo passou ainda quero ser Marilyn Monroe, se morresse hoje e renascesse amanhã. Continuaria sonhando em ser a minha Diva.
Vovó deve ter tido o sonho de ser Monroe, pelo menos por um momento, usando o mesmo perfume.
Mulheres de gerações diferentes, já sonharam em agarrar um milionário; tiveram que enfrentar uma Malvada.
Quantas já não choraram com um rio das almas perdidas, sonharam com um inventor da mocidade. Entenderam que os homens preferem as loiras.
Eu quero ser, minha mãe; minha vizinha; quem sabe até minha filha possa sonhar em ser Marilyn Monroe.
Norma Jeane quis ser Marilyn Monroe. Foi a única a conseguir segurar esta personagem irresistivel até 1946 a 1962.
Muito pouco tempo, alguns podem pensar. Tempo suficiente para suportar o peso do Mito “Marylin Monroe” até mesmo para a adorável Norma.
Boa parte de nós que sonhamos em ser a nossa musa. Somos Normas. Jovens, bonitas e sonhadoras. Muitas vezes incompreendidas e magoadas.
Amando demais, sofrendo deveras. Tendo a nossa beleza e leveza exaurida por ilusões.
Somos velhas, jovens; magras; gordinhas; solteiras; casadas. Pudicas ou liberais. Normas sonhando em ser Marilyn Monroe. Nuas com apenas duas gotas de Chanel nº 5.