Mar...fim

Há cinco minutos atrás eu tinha perdido a fé na humanidade, na minha modesta vida, nos leprechauns e anjinhos da guarda também. Nem preciso comentar sobre papai noel e coelhinho da páscoa...esses aí me decepcionaram até a última gota d’água e desiludiram até a mais realista das progenitoras - a minha - a ponto de confundirem a minha cabeça com devaneios que criamos e outras loucuras que existem por aí e pareceriam normais em qualquer outro lugar que não fosse a Terra. E a gente insiste em fingir - enganar a nós mesmos - que tudo isso é normal. Ser assaltado e humilhado no portão de casa é normal, se você sobreviveu ao toque frio daquela arma quente. Estou exausta e meu corpo padece oscilando. Meus olhos pesam toneladas querendo saltar de minha face direto para uma nova ilustração psicodélica e colorida, viajar pelos olhos de alguém totalmente desconhecido (com um intenso potencial de atrair-me como ninguém sequer ousara, causando grande expectativa desconcertante da pessoa ideal) e, por fim, encontrar um caminho por debaixo da terra lamacenta. Não vejo sentido nenhum em estar escrevendo aqui tudo que passa pela minha mente e muito menos em continuar escrevendo pra ver no que a minha vida vai dar daqui uns anos. Elefantes gigantes da Malásia: taí um ser interessante que incita as sinapses de meus neurônios e que, com certeza, deve levar uma vida mais sossegada – e olha que ele é duplamente mais pesado - e, mesmo assim, livre de arrependimentos e culpa do que a maioria da população. "Ah cara, devia ter dividido aquele monte de marula contigo...foi mal!” e "Desculpa por ter te molhado com aquele jatão de água outro dia, gatinha...digo elefantona, meu dengo. Mas eu sei que as coisas andam meio secas entre a gente. Rola uma volta pela savana mais tarde?"...pronto. Um ser forte, gigante e intimidador, que vive em manada e de fácil sobrevivência, sem muitas ambições em vida, consequentemente sem decepções. Está aí a vida daquele elefante gigante da Malásia com perninhas templárias - que mais se assemelham com colunas gregas espessas que com a floricultura de vasinhos nas pernas da tia Jurema. Chega a onça-pintada, querendo sobressair na cadeia alimentar, e era uma vez um elefante gigante da malásia (que anda leeeeennnt...o). E, mais uma vez, o google me diz que tudo o que eu imaginei sobre esse animal não tão irracional assim estava errado. Não só o google; a vida. Ele existe sim - pode até ser muito bem vivido - mas, para começar, é o menor elefante que habita essa pitoresca projeção dos infortúnios e glórias chamada Terra. Tadinho...Ô dó! Além de matarem-no para lucrarem sobre a venda de marfim, usam-no como meio de transporte e em trabalhos florestais sem, ao menos, pedir-lhe um "Com licença, posso encostar no seu traseiro?". Que mundo é esse onde nada é o que parece e tudo aparenta? Nada pertence, nada justifica, nada é suficiente, nada excede a imaginação e encontra verdadeiro ritmo de poesia? Aquele elefante provavelmente lutou até seu último fôlego e foi morto perante todos os seus semelhantes. Para mim, nada é NADA. E mais nada. Você nada, nada, nada, nada e nada contra a corrente...e morre na praia. Você vive e compete por aparências, telefones- sem- fio, spot de luz, conhecimento (não sabedoria) e dinheiro para crer que você significaria algo mais que especial para a vida das pessoas . Você desafia o seu destino, sem sombra de dúvidas, com todos os seus questionamentos. Está mais do que na hora de remar! Mas você se esqueceu de que você não é o melhor carro de todos os tempos da última semana, a melhor grife de roupas e badulaques, a melhor nota no vestibular ou nas faculdades mentais, a melhor música já escrita, o que você compra e lhe consome, a mais compreensiva de todas as coisas, os melhores amigos de status que você nunca teve, o melhor e mais romântico beijo de cinema, a melhor casa com vista para o mar, o maior elefante gigante da Malásia e, principalmente, você não é melhor ou mais dotado de simancol que aquele seu vizinho chato e barulhento do terceiro andar. Você é humano e isso é uma bosta. Você compra, investe, vende, se ilude, se vende, vende sua ideia, vende seus valores, consome, constrói, destrói, batalha, deixa, se queixa, esquece, vai embora e não corre atrás do que quer. O que você quer é que vive fugindo de você, não é. Você também não entende nada mas percebe tudo ao seu redor, assim como eu, e provavelmente encontrou esse texto nos escombros da comunicação e da procrastinação desleal – espero eu que não tenhamos nenhuma sintonia telepátia porque isso soaria imaturo e loucura da minha cabeça. Mas continue a planejar, porque você tem toda razão sobre isso. Tenta mastigar muitas vezes essa sua comida já mal deglutida pra não ganhar uns quilinhos a mais...digere bem a sua insatisfação. Nunca ande descalço ou sem suas casacas pra não pegar uma gripe, olhá lá! Você ACREDITA piamente que sairá bem na vida, mas desconhece o motivo de sua infelicidade no momento certo. No fundo, você SABE que vai dar errado, mas você ADORA contestar. É o maior dos incoerentes por ficar assim de braços tão arreganhados e alma trancafiada para o que a vida lhe dá. Até o elefante gigante da Malásia tem mais coragem e peito do que você! Que vontade que tenho de rir da cara de todos nós que debochamos do destino (o alheio, no topo da lista) e fugimos de qualquer emboscada que bata na nossa porta. Ela vai continuar lá, má resolvida e ininterrupta por completo, não importa o quanto que você se esconda. E alguém ainda vai resolver no seu lugar – não se preocupe – mas o troféu será para a pessoa com a atitude merecedora. É, ela roubou o que era seu e você não fez NADA. A vida te dá limões e, ao invés de fazer limonada, você azeda sua mente com insegurança...o quê foi, hein? Não era lima boa o bastante para você? Agora vivemos na Era do Gelo e você ainda se culpa por terem esquecido de você. A vida que foi. E já passou por você há muito tempo sem sua permissão, caríssimo leitor. Aliás, você custa tão caro assim? Espero que não seja seu caso mas, se for, saia de sua casa já e vá procurar as suas pendências nos lugares mais amedrontadores e inesperados. E não suma de lá até que você resolva, ou pelo menos até que abra caminho para novas pendências. Será preciso mais do que um copo e meio d’água com açúcar para acalmar esses seus hormônios ferozes que se precipitam com tanta frequência. Quando chegar no final do dia, não sinta ódio por ter sido manipulado como uma marionete dos anos 30 – como pode também ser de qualquer outra década, mas preferi assim - e corte imediatamente os fios que ligam teu corpo àquele sistema injusto. O problema mesmo é que somente (e só mente) nessas condições que você sentirá um alívio por poder culpar qualquer outra 3º pessoa do singular ou plural de todas as suas falhas e mazelas circunstânciais. Descobrirá que seu alforje tornou-se um fardo; um mar imenso de dúvidas que te carregam para um infindável fim, que passa em avalanches de memórias já esquecidas. Vai ver que tudo começa pelo mar de esperança, e acaba em mar também (com muita pizza, por favor). É realmente desolador, mas você terá que conviver com as perdas. Mas o quê eu toda ambígua sei da vida? Ora, eu sei sobre aquele elefante gigante da Malásia que, mesmo maltratado pelo circo, é brindado pelos hindus como o deus da sabedoria, mais conhecido como “Ganexa”. Então volte, porque agora você realmente deve se preparar; algo ou alguém te fará inesquecível em algum lugar do mundo. O elefante gigante da Malásia finalmente encontrará toda aquela sua grandeza, nas devidas proporções, como o deus de alguém. Mesmo que o menor de sua espécie, ainda é elefante. Tem uma trompa digna de invejar-me nos dias que o ócio corrói até para banhar-me. E quer saber mais? O meu deus tem letra minúscula e uma cabeça - ou várias – muito confusa. Ainda assim, ele tem o poder (eu diria o toque gentil de mão aveludada) sobre a natureza; suas dádivas e catástrofes. Ele(a) deve saber o que faz ao morar na minha alma e de todos as coisas – até mesmo naquela ponta de cabeça de alfinete que me picou na noite passada. E, principalmente, ao deixar que aqueles elefantes gigantes da Malásia saiam de minha cabeça, levando todo o peso consigo. É incrível como eles voltam – dia sim, dia não – por aquela trilha toda esburacada de minha imaginação...só que, dessa vez, com alguns quilos a menos. Já aviso que eles não devem ficar por muito tempo, pois tenho sono. E, se insistirem, terão de malhar – e muito. Agora quero dormir da cabeça aos pés, e rezar para que o anjinho da guarda vele meu sono e sele a minha alma... afinal, sempre botei fé na humanidade, na minha modesta vida, nos leprechauns, no papai noel, no coelhinho da páscoa...e na grandeza peculiar dos elefantes gigantes da Malásia.