É bom ter fé

 

 

Outro dia meu marido foi ao centro resolver algumas coisas e deixou por último a compra dos remédios para a mãe dele, muitos dos quais necessitam a apresentação da receita médica, acompanhada do documento de identidade da paciente. Saindo da farmácia um temporal desabou. Sorte que ele tinha levado o guarda-chuva, que teve que equilibrar contra o vento junto com os pacotes que carregava no meio do aguaceiro até entrar no carro. Chegando em casa, deu por falta da pastinha onde estavam as tais receitas e o documento dela. Deve ter deixado em cima do balcão, mas já era quase noite, não adiantava voltar para procurar. No dia seguinte, lá foi ele à farmácia. Não encontrou. Devo ter deixado cair na rua, pensou horrorizado. Entrou em várias lojas da vizinhança, na esperança de que alguma boa alma a tivesse achado e guardado. Nada. Ficamos imaginando a pastinha pisoteada na calçada molhada ou rodando na enxurrada em meio a  papeis e copinhos de plástico que os porcalhões largam pelo chão... E o maior problema, como tirar outro documento de identidade da velhinha? Aos noventa e quatro anos, quase impossibilitada de se locomover, ela mora em São Paulo! Três vezes mais difícil.

 

Deixamos aviso numa rádio, telefonamos para a seção de garis da prefeitura, fomos à banca da polícia na praça principal da cidade que se ocupa também de achados e perdidos. Ninguém viu, ninguém achou. Mas não perdemos a esperança de que ela aparecesse. Rezamos. Lembrei que minha avó dizia que Santo Antonio ‘esconde’ coisas para que levemos dinheiro para o pão dos pobres, numa igreja longe de casa. Prometemos.

 

Depois de uma semana sem notícias, meu marido resolveu fazer o mesmo caminho outra vez e começou do começo. Voltando à farmácia, dirigiu-se a uma balconista que ele nunca tinha visto. Ela abriu uma gaveta e lá estava a pastinha! Imediatamente várias cópias do RG foram feitas.

 

Ontem fomos até Aparecida cumprir a promessa. Santo Antonio e a Padroeira do Brasil ouviram nossas preces!