RIO DE JANEIRO - A MINHA CIDADE.
HOMENAGEANDO SEUS 447 ANOS.
Peço licença ao amigo e poeta Gilbertô, mas a sua última crônica acendeu em mim uma incontrolável vontade de render meu preito a esta cidade tão linda, que me viu nascer e à qual devoto paixão de primeiro e único amor .
Cresci como criança livre, sem peias, medos, repressão ou violência, solto pelos matagais, vielas e becos de Sta Teresa, do casario antigo, das grandes mansões coloniais, das íngrimes ladeiras trilhadas com pés descalços, da disputada pelada, da sublime descoberta dos segredos de um corpo de mulher.
Tenho, ainda, muito vívida, a lembrança das infindáveis e gloriosas viagens de bonde, desde o Tabuleiro da Baiana até o Bar 20, no Leblon. Era barato, e o reboque, sem anteparas, garantia o refrigério do deslocamento do ar, que o varria por inteiro.
Só numa viagem, fazia-se um verdadeiro "tour" pela zona centro e sul da cidade, passando pela rua da Carioca, Passeio Público, Gloria, Catete, Flamengo, Botafogo, Túnel Velho, Copacabana, Ipanema e, finalmente, o Leblon, onde o bonde fazia a volta, no Bar 20, e retornava, levando-me sempre à bordo. Afora o bonde, o jeito era ir mesmo a pé, o que, aliás, fazia um bem danado ao bolso e às pernas que, assim, cresceram finas, mas muito fortes.
Então, era a Lapa boêmia, atravessando a “ Zona”, com seus prostíbulos alinhados e prenhes de "polacas" debruçadas nas janelas, deixando antever nesgas de fartos seios ou, nas portas, de combinação(!), ofertando a visão de sensuais e rechonchudas coxas. Era demais!
Depois, era o Cine Colonial, misto de cinema e teatro, colado aos Arcos da Lapa, em frente à Igreja da Lapa, com uma das torres incompleta (diziam que um tiro de canhão invasor a teria derrubado) e onde fui batizado ou, então, uma esticada até a Cinelândia para escolher, naquela fileira de cinemas, o que mais lhe agradasse.
Valia a aventura para chegar à Praia de Copacabana, pendurado no estribo do bonde e, de molecagem, saltar quando o cobrador, de gravata, colete e paletó (!), se aproximava e pegar o reboque andando, só pra infernizar o coitado do condutor (não sei porque era chamado assim).
Foi nessa praia, levado por um amigo xará, cujo pai era gerente do Copacabana Palace, que me deleitei na sua piscina milionária, estreando o short que minha mãe fez, usando um velha calça caqui do uniforme de estudante.
Deus, com benevolência de pai amoroso, cumulou esta cidade com uma impressionante quantidade de maravilhas naturais, impossível de se encontrar em qualquer outro lugar do planeta: Pão de Açúcar, Corcovado, Pedra de Gávea, Dois Irmãos do Leblon, Ilhas Cagarras, Ilhas Tijucas, Ilha de Paquetá, Ilha Rasa, Ilha Redonda e seu filhote, Ilha do Governador, Ilha das Cobras, Floresta da Tijuca, Baia de Guanabara, a Lagoa de Marapendí, a Lagoa Rodrigo de Freitas e dezenas de praias de areia branca de incomparável beleza. Coube ao homem, diante de tanto esplendor, realçá-la, e deu-lhe os Arcos da Lapa, da mais pura e singela beleza, o Jardim Botânico, o Cristo Redentor, o bondinho do Pão de Açúcar, o Largo do Boticário, os Museus, o Municipal, o Aterro do Flamengo, a Candelária, a igreja de N.Senhora da Gloria do Outeiro, a Igreja da Penha, o Mosteiro de S.Bento, de admirável riqueza e todo o esplendido casario colonial, e mais, e mais, e mais...
Andei, e ando tanto, ainda, por esta amada cidade e, a cada dia, me surpreendo com novos ângulos, perspectivas diferentes, cores insuspeitadas, ocasos que emocionam e são calorosamente aplaudidos por cariocas ou não. Amo tanto esta cidade, que, quando viajo de avião, sinto o coração chegando à boca, a garganta tão apertada que quase não me deixa respirar e lágrimas de pura emoção rolam ao vê-la, do alto, com a sofreguidão do beduíno que encontra seu oásis. Oro e agradeço ao Cristo Redentor, rogando que mantenha, sempre, seus braços abertos sobre o Rio de Janeiro, minha terra, meu chão, agora e sempre, Amém!
HOMENAGEANDO SEUS 447 ANOS.
Peço licença ao amigo e poeta Gilbertô, mas a sua última crônica acendeu em mim uma incontrolável vontade de render meu preito a esta cidade tão linda, que me viu nascer e à qual devoto paixão de primeiro e único amor .
Cresci como criança livre, sem peias, medos, repressão ou violência, solto pelos matagais, vielas e becos de Sta Teresa, do casario antigo, das grandes mansões coloniais, das íngrimes ladeiras trilhadas com pés descalços, da disputada pelada, da sublime descoberta dos segredos de um corpo de mulher.
Tenho, ainda, muito vívida, a lembrança das infindáveis e gloriosas viagens de bonde, desde o Tabuleiro da Baiana até o Bar 20, no Leblon. Era barato, e o reboque, sem anteparas, garantia o refrigério do deslocamento do ar, que o varria por inteiro.
Só numa viagem, fazia-se um verdadeiro "tour" pela zona centro e sul da cidade, passando pela rua da Carioca, Passeio Público, Gloria, Catete, Flamengo, Botafogo, Túnel Velho, Copacabana, Ipanema e, finalmente, o Leblon, onde o bonde fazia a volta, no Bar 20, e retornava, levando-me sempre à bordo. Afora o bonde, o jeito era ir mesmo a pé, o que, aliás, fazia um bem danado ao bolso e às pernas que, assim, cresceram finas, mas muito fortes.
Então, era a Lapa boêmia, atravessando a “ Zona”, com seus prostíbulos alinhados e prenhes de "polacas" debruçadas nas janelas, deixando antever nesgas de fartos seios ou, nas portas, de combinação(!), ofertando a visão de sensuais e rechonchudas coxas. Era demais!
Depois, era o Cine Colonial, misto de cinema e teatro, colado aos Arcos da Lapa, em frente à Igreja da Lapa, com uma das torres incompleta (diziam que um tiro de canhão invasor a teria derrubado) e onde fui batizado ou, então, uma esticada até a Cinelândia para escolher, naquela fileira de cinemas, o que mais lhe agradasse.
Valia a aventura para chegar à Praia de Copacabana, pendurado no estribo do bonde e, de molecagem, saltar quando o cobrador, de gravata, colete e paletó (!), se aproximava e pegar o reboque andando, só pra infernizar o coitado do condutor (não sei porque era chamado assim).
Foi nessa praia, levado por um amigo xará, cujo pai era gerente do Copacabana Palace, que me deleitei na sua piscina milionária, estreando o short que minha mãe fez, usando um velha calça caqui do uniforme de estudante.
Deus, com benevolência de pai amoroso, cumulou esta cidade com uma impressionante quantidade de maravilhas naturais, impossível de se encontrar em qualquer outro lugar do planeta: Pão de Açúcar, Corcovado, Pedra de Gávea, Dois Irmãos do Leblon, Ilhas Cagarras, Ilhas Tijucas, Ilha de Paquetá, Ilha Rasa, Ilha Redonda e seu filhote, Ilha do Governador, Ilha das Cobras, Floresta da Tijuca, Baia de Guanabara, a Lagoa de Marapendí, a Lagoa Rodrigo de Freitas e dezenas de praias de areia branca de incomparável beleza. Coube ao homem, diante de tanto esplendor, realçá-la, e deu-lhe os Arcos da Lapa, da mais pura e singela beleza, o Jardim Botânico, o Cristo Redentor, o bondinho do Pão de Açúcar, o Largo do Boticário, os Museus, o Municipal, o Aterro do Flamengo, a Candelária, a igreja de N.Senhora da Gloria do Outeiro, a Igreja da Penha, o Mosteiro de S.Bento, de admirável riqueza e todo o esplendido casario colonial, e mais, e mais, e mais...
Andei, e ando tanto, ainda, por esta amada cidade e, a cada dia, me surpreendo com novos ângulos, perspectivas diferentes, cores insuspeitadas, ocasos que emocionam e são calorosamente aplaudidos por cariocas ou não. Amo tanto esta cidade, que, quando viajo de avião, sinto o coração chegando à boca, a garganta tão apertada que quase não me deixa respirar e lágrimas de pura emoção rolam ao vê-la, do alto, com a sofreguidão do beduíno que encontra seu oásis. Oro e agradeço ao Cristo Redentor, rogando que mantenha, sempre, seus braços abertos sobre o Rio de Janeiro, minha terra, meu chão, agora e sempre, Amém!