MARMITA
Hoje estava mudando os canais na televisão para encontrar um desenho animado para minha netinha assistir quando repentinamente deparei com um programa matutino destinado as donas do lar que estava ensinando a preparar marmitas, deixei por algum instante no programa e deu uma vontade imensa de escrever uma simples crônica sobre a bela época que eu era um marmiteiro, aliás, fui marmiteiro quase a vida toda, devido a minha posição social um pouquinho desprestigiada, mas isto não vem ao caso e passamos a descrever a história:
As primeiras marmitas que eu levei para o serviço eu tinha dezessete anos de idade e era sempre mamãe que preparava minhas marmitas. Minha primeira marmita era de alumínio, comprada na lojinha da Dona Matilde e nunca me esqueço do preparo da minha primeira marmita. Mamãe levantava-se bem cedinho e ia cozinhar o arroz para que eu levasse a comida fresquinha. Colocava a marmita sobre o fogão e em seguida começava a fazê-la, primeiro colocava o feijão e logo após o arroz e em seguida um delicioso e cheiroso bife, pronto a marmita já estava pronta. Colocava-a cuidadosamente numa pequena mochila e seguia para o trabalho.
A marmita ficava repousando dentro de uma velha geladeira e quando era meio dia ia esquentá-la, então não existia o tal do micro-ondas e a mesma era esquentada num tal de banho-maria.
E então era só começar a comer e confesso que no primeiro dia fiquei um pouco constrangido, mas com o passar dos tempos assumi ser um marmiteiro Sênior e sabia todas as nuances de como preparar, carregar, esquentar e comer as marmitas.
Lembro-me embarcando nos lotadíssimos ônibus na Cidade A.E. Carvalho para ir trabalhar no centro da cidade e sempre lá estava eu com minha inseparável marmita de alumínio e quantas vezes ficava muito envergonhado quando alguma linda menina pedia se podia segurar a tal marmita e eu sempre agradecia e dizia que não era necessário pois ia descer logo, pois morria de vergonha da menina colocar a minha marmita no colo e as lindas pernas da menina ficassem toda gelada, pois a marmita estava bem gelada por passar a noite dentro na nossa geladeira. Imagine que num determinado dia dei minha marmita para uma menina conhecida segurar e ela depositou a mesma nas suas pernas e teve a indelicadeza de perguntar o que tinha naquele embrulho e eu quase morri de vergonha diante de risadinhas abafadas e cara de desdém do pessoal que estava ao nosso redor, a partir deste dia nunca mais deixei ninguém carregar minha gostosa e gelada marmita e mantinha-a sempre perto do meu corpo com a devida prudência em não esbarrar em ninguém.
Certa época trabalhava numa Faculdade e levava marmita e quase todos os dias e tinha uns “amigos” que eram muito “sacanas” e adoravam uma patifaria e brincadeiras que às vezes irritavam e foi num determinado dia que chegando ao meu serviço deixei a marmita numa geladeira e depois de esquentada depositei-a na mesa e abri a mesma e levei um grande susto: Não havia a tal da mistura, tinham roubado a mesma. Imediatamente tampei a mesma e fui reclamar com nosso gerente administrativo sobre o sumiço da minha mistura e ele envolvido em grandes tarefas da Faculdade pediu para eu aguardar pacientemente na sala de espera que iria atender-me. Passados eternos minutos e meu estômago já estava roncando tomei uma decisão radical: Fui a geladeira, abri-a e lá estavam quatro marmitas repousando na geladeira a espera de seus donos. Abri as quatro marmitas, retirei as misturas de todas e coloquei na minha marmita e comi prazerosamente sabendo perfeitamente que todos os funcionários marmiteiros seriam chamados para conversar com nosso gerente e foi muito engraçado ver as caras dos funcionários reunidos e levando uma tremenda bronca do gerente pelo sumiço das misturas. A partir deste dia nunca mais sumiu nenhuma mistura e as marmitas ficavam em paz aguardando seus donos.
Lembro de vários episódios envolvendo meu amor por marmitas e a grande gozação era quando eu levava ovo na marmita e sempre um engraçadinho dizia que eu adorava “zoiudo” e tinha uma criação de galinhas em casa, inicialmente ficava um pouco irritado, mas com o passar o tempo levava tudo na esportiva e entrava no clima de “tiração de sarro” e tudo seguia bem.
Hoje são raras as pessoas que ainda levam as tradicionais marmitas de alumínio, pois existem os “top-ware” da vida e depois que inventaram o tal ticket alimentação a nossa querida marmita tende a cair no esquecimento de todos, mas ainda continuo levando minhas marmitas preparadas com muito esmero pela minha filha. E ainda falam que levar marmita é coisa de pobre, pobre nada o importante é mantermos nossos “buchos” cheios e que se dane os ricos ou aqueles que nunca levaram uma marmita gelada para o serviço, pois não terão uma história engraçada como esta! Bela recordação! Marmita!